Isabella.Wenderros 11/02/2022Talvez já tenha encontrado a melhor leitura de 2022. No 1º capítulo, Vivian recebe uma pergunta de Angela, com quem trocou apenas 3 cartas ao longo dos anos: “Agora que a minha mãe faleceu, você poderia me dizer o que foi para o meu pai?”. Para responder, a protagonista decide contar sobre os acontecimentos que cruzaram vários destinos ao seu, inclusive o do pai de Angela.
Em 1940, Vivian Morris é enviada pelos pais para viver com a tia em Nova York. Filha de uma família de classe média alta, a vida que ela sempre conheceu foi a dos colégios internos, mas nunca se sentiu parte daquela comunidade. Quando chega na cidade onde tudo é intenso, quando conhece pessoas diferentes de todas com as quais já conviveu, percebe que se encaixa bem no meio daquele pequeno caos.
O ponto de partida e o de chegada não poderiam ser mais diferentes: de uma cidade pequena para uma metrópole; de uma casa silenciosa para um teatro decadente na Broadway, o Lily Playhouse, propriedade de Peg Buell, sua tia excêntrica. Com Célia, uma corista que se torna sua colega de quarto, Vivian descobre a noite de NY, cheia de bebidas, festas e muito sexo.
Esse livro foi um mergulho no desconhecido, não sabia nada sobre ele. Imediatamente percebi que existiam três coisas das quais gosto muito: histórias ambientadas em Nova York, histórias ambientadas na Nova York no século 20 e narradores já na velhice falando sobre o passado. A escrita de Elizabeth me envolveu e criou uma ambientação tão vívida que eu poderia estar na frente da TV – literalmente consegui enxergar as roupas, ouvir as risadas, sentir as texturas.
Se a narrativa me conquistou, não pude dizer o mesmo sobre a protagonista. Por boa parte da leitura eu não me conectei com Vivian, não me importei com ela. Cheguei a pensar em abandonar, mas no capítulo seguinte um personagem surgiu e as páginas foram viradas rapidamente. Quando Billy Buell aparece no Lily Playhouse trazendo seu charme e mexendo com todo mundo, as coisas ficaram mais dinâmicas. Depois que Cidade das Garotas é montada e vira um sucesso, senti que a história tinha realmente começado. Como consequência das emoções que a peça desperta, Vivian comete um grande erro e foi quando a chave virou e a protagonista me ganhou. Após Pearl Harbor, a Segunda Guerra Mundial também se faz presente e afeta todos os personagens.
O modo como a personagem conta sua vida é de uma sinceridade arrebatadora! Com seus 90 anos, Vivvie é segura de si, de seus erros e acertos, paixões e desejos. Ela não passa a mão na própria cabeça, mas também não se envergonha de quem é ou se recrimina eternamente sobre coisas não podem ser mudadas. Ela é forte, sagaz e divertida – essa leitura me tirou vários sorrisos, de verdade. Outros personagens também são excelentes, como Marjorie, Peg, Olive e Frank, mas Vivian brilha.
Já disse em outras resenhas que acho difícil escrever sobre um livro quando sou conquistada mais profundamente. Cidade das Garotas foi um flerte a cada página, demorou em me arrebatar, mas quando conseguiu... Estamos em fevereiro de 2022, muita coisa pode mudar, mas digo com segurança que essa pode ter sido minha melhor leitura do ano.