Karamaru 13/12/2021
TENTATIVA DE UM ÉPICO
“A casa dos espíritos”, sem dúvidas, é uma obra amada por milhares de leitores. E foi com esse livro que a chilena Isabel Allende angariou fama mundial. Por causa desses fatos talvez, a expectativa era alta. É perceptível seu caráter ambicioso: narrar certa história de um país por meio de uma excêntrica família. Mas o que era para ser grandioso se compromete: as personagens são sufocadas por uma narrativa ininterrupta, permeada de acontecimentos rocambolescos e diálogos e escolhas às vezes pouco inspirados.
A certa altura, por exemplo, para se referir a um dirigível, utiliza-se a seguinte metáfora: “...aquela gigantesca salsicha inflável...” Enfim... Não, não é a tradução. Para sermos justos, a trama prometia no início: os registros memorialísticos da narradora aliados a toques de realismo mágico conferiu ao introito uma aura de mistério instigante. Ocorre que os próprios espíritos aos quais o título da obra se refere pareceram-nos muito “espirituais”, ou seja, fechamos o livro sem saber o propósito deles no enredo.
Isso se evidencia, principalmente por meio da personagem “Clara, claríssima, clarividente” (no dizer de seu marido Esteban). A nosso ver, ela era a protagonista do romance. Mas sua “mediunidade” é, no mínimo, estranha e pouco explicada pela autora. Não sabemos se se tratava de animismo, espiritismo, bruxaria..., já que a dita personagem podia prever acontecimentos futuros, através das cartas do tarô, mas podia (entre outros “poderes”) até levitar-se do chão com sua cadeira de descanso.
Depois da morte repentina de uma personagem, o livro assume um tom mais político. O realismo mágico inicial é praticamente colocado de lado, e, surpreendentemente, o texto até fica mais cativante. Todavia as personagens – as que ainda “perambulavam” – são relegadas ao segundo plano; assim, o texto perde emoção, adquirindo um aspecto didático, e a impressão que tivemos foi a de uma ruptura estilística. Chegamos ao fim da leitura, com a certeza de que faltara à casa dos espíritos uma boa dose de presença de espírito...
Leitura e microrresenha feitas em parceria com Carlos (IG: @o_alfarrabista).