Mariana 21/01/2020aquele quintal era feito um mundoSeis contos infantis muito gostosinhos de ler e que relembram a infância. Todos muito bem escritos.
"Assim como a maioria das crianças, também tínhamos fascínio por monstros, porque eles simbolizavam o desconhecido. E o desconhecido pode ser bem assustador às vezes. Ir sozinho à padaria pela primeira vez, fazer um teste muito importante, participar do primeiro campeonato esportivo. (...) Pensar, criar e desenhar monstros é a primeira forma que a gente tem de se preparar para a vida."
Como adulta, gostei das referências às cidades históricas do estado de Sergipe e à cultura sergipana no geral. Fala, por exemplo, da praça São Francisco na cidade de São Cristóvão, primeira capital do estado e quarta cidade mais antiga do Brasil:
"O varal de luzes que cortava o lugar de um canto a outro tingia a noite fria com a tonalidade amarelada das lâmpadas de sódio. Pessoas comiam batata frita, pipoca e outros quitutes em barraquinhas que disputavam o espaço da calçada."
Em um dos contos, especialmente, fala da coruja de apelido "Rasga Mortalha", que compõe o imaginário popular de uma das lendas de São Cristóvão. Também cita no conto a prática do "ex voto", presente na antiga cultura católica da cidade. Sobre essa prática, de deixar peças de madeira em formato de membros humanos para os santos, o autor explica:
"Os membros são esculpidos por pessoas comuns, e representam as partes do corpo que elas conseguiram curar, por meio da ajuda de seu santo de devoção, ou seja, seu santo favorito. É uma forma de retribuir a graça alcançada e pagar a promessa feita."
Os heróis ou líderes do livro são pessoas das mais diversas e inesperadas: a irmã de um amiguinho, um morador de rua, o avô. Muito bom! Recomendo.