Annalisa 18/03/2021A outra metade de Sarah
Antes de iniciar a leitura do livro estava um pouco desanimada, com receio de encarar uma história mais maçante e parada, sem tantas reviravoltas, a sinopse já me apresentava: Sarah uma mulher de negócios bem sucedida sofre um grave acidente de carro e por conta de um lesão cerebral perde a total noção do lado esquerdo do mundo, inclusive do lado esquerdo do seu próprio corpo, e terá que aprender a superar e lidar com essa nova realidade.... Não parecia ser tão empolgante, sabe?
Ah, mas que bela surpresa ao iniciar a leitura e poder entrar dentro do mundo da Sarah, o livro é contado em primeira pessoa e podemos ter a visão muito além do lado direito e esquerdo de Sarah, temos a mulher empoderada vice-presidente dos Recursos Humanos de uma grande empresa, dona de suas escolhas e destino. Temos a mulher-mãe, com todo o amor do mundo e muito mais para com seus três filhos (Charlie, Lucy e Linus); temos a mulher-amante que mesmo sem grandes demonstrações públicas e físicas de afeto, ama seu marido acima de tudo. E também temos a mulher-filha que guarda um grande ressentimento pelo abandono afetivo de sua mãe durante sua infância e adolescência.
O livro apesar de trazer assuntos pesados, como depressão e reabilitação, apresenta uma leveza tão grande nas palavras que a leitura é extremamente prazerosa, por várias vezes me peguei dando grandes risadas junto com a Sarah.
Após o acidente, ela realmente precisará reaprender a viver dentro de suas limitações, nada que está ao seu lado esquerdo é perceptível, o lado esquerdo das palavras, o lado esquerdo dos ambientes, seu próprio lado esquerdo parece inexistente. Sarah tem grande dificuldade em lidar com essa realidade, acostumada a fazer 30 coisas ao mesmo tempo, trabalhar 80 horas por semana, agora demora mais de uma semana para ler o jornal e mais de 15 minutos para andar 2 quarteirões, não que ela seja preconceituosa, talvez um pouco negacionista, mas ela não consegue acreditar que aquela poderá ser sua condição para sempre.
Porém, aos poucos ela começara a enxergar o outro lado (trocadilho, rsrs) das coisas, que mesmo com suas limitações ela pode e deve fazer tudo aquilo que quer, que na verdade sua condição atual poderá abrir novas condições e percepções antes ainda não avistadas: um tempo para si mesma, para sua família, para ser mãe e ser esposa, poder se re-conectar sua mãe e tentar superar um passado turbulento de emoções, aprender a diminuir a marcha e poder apreciar mais as coisas que estão ao redor. Que ser bem sucedida não é sinônimo apenas de uma grande casa, o carro do ano, ou o maior salário. Mas que sucesso também é poder ser feliz consigo mesma e compartilhar essa felicidade com os que estão ao seu redor. Que ter sucesso talvez seja tomar um delicioso café no meio do dia realizando um caça-palavras em sua cozinha.
Aaaah, que delicinha de livro, uma das minhas melhores descobertas desse ano, recomendarei para muitos, vale a pena compartilhar algumas horas do seu dia junto com a Sarah.