Vinicius.maris 20/06/2024
A morte não é e NUNCA será uma inimiga.
Não tem como falar da morte sem questionar a vida. Viver é uma dádiva, um alívio. Acordar todos os dias e sentir que o seu coração ainda está batendo no seu peito, sentir o ar saindo e entrando dentro de seus pulmões é libertador. Por mais que seja um acontecimento que passa despercebido por muitas pessoas, elas se sentem contentes por estarem vivas, ou pelo menos deveriam. Desde que nascemos, temos uma certeza: "iremos morrer algum dia". Não saberemos quando, onde e como. A morte é vista como uma inimiga, algo cruel, egoísta, injusto. E apesar dos julgamentos cegos que deixamos nossos sentimentos e emoções fazerem, e se nós não somos os vilões da história? Será que querer viver para sempre não é um pensamento egoísta? O mundo não iria suportar se as pessoas não morressem. O livro "As intermitências da morte" de José Saramago retrata este lado da morte. O que aconteceria se a morte saísse de cena? Em um universo distópico, Saramago faz com que um país inteiro sofra as consequências da iminência da morte, ou seja, a falta dela. Acompanhamos a morte vendo as pessoas implorar pelo fim da vida, algo que nunca foi visto antes. Na primeira parte do livro, temos uma crítica social. Como o governo iria agir com a "imortalidade"? Seria um caos na saúde, na mão de obra, no mercado e principalmente na religião. Caso esteja se perguntando de qual forma a ausência de algo que nos faz mal, que nos deixa triste, afetaria nossa vida? Eu poderia lhe responder, mas você terá que ler o livro e descobrir por si só.
A morte é a única certeza que temos na vida e o maior mistério que nunca iremos descobrir, não enquanto estivermos vivos. Existem várias teorias sobre a morte, nenhuma concreta, comprovada, até porque ninguém morreu e voltou à vida para contar. Até onde se sabe.
Na segunda parte do livro, teremos a morte em destaque e sua relação com o violonista. É nessa parte que podemos compreender a genialidade de José Saramago na literatura. A morte retorna do seu descanso de 8 dias, o que foi suficiente para abalar não só o país em questão, mas o mundo inteiro. Pessoas tentavam entrar no país para viver e pessoas tentavam sair para morrer. Apesar das controvérsias, elas tinham algo em comum: o "desespero", a busca por algo que acabaria com seus problemas. O livro traz várias reflexões e uma epifania que tive foi: se a morte parasse de existir, o ser humano conseguiria encontrar uma cura para todas as doenças? Ou melhor, uma fórmula para juventude. A morte acaba, mas o tempo não. A doença e a miséria continuam. A morte é o fim de um ciclo e um início para uma nova vida. A morte é, para muitos, um alívio final, o descanso merecido. Apesar de tudo, a maior doença que existe na terra será a arrogância do ser humano e isso só a morte pode acabar. Todos os problemas, doenças e catástrofes são consequências de ações, nossas ações. Viver é lindo, mas é algo raro, pois a maior parte dos seres humanos apenas sobrevive. Vivem no automático. Não vejam a morte como inimiga. Ela é necessária para estarmos vivos. É o motivo de querermos viver e aproveitar os momentos com nossas famílias e amigos. A morte não tira, ela devolve o conforto que um dia você teve antes de ver a luz.
Falando da escrita e da tipografia do livro, é um tanto desafiadora, mas é um livro bem-humorado e reflexivo. Me encantei pela obra e pelo autor. Espero ler mais algumas obras dele.