eriksonsr 07/05/2015
Ai está mais um livro que li depois de ver uma resenha da Tati (https://www.youtube.com/channel/UCmEKnMzbltaFyiA6H46IDng). Deve ter quase dois anos que vi a resenha e queria ler o livro, porém só depois de comprar meu kobinho e baixar a versão digital que fui conseguir ler. Nunca tinha lido nada do Saramago, acho que comecei bem.
Que livro ótimo! História boa, diálogos ótimos e uma escrita ótima também!
Tudo se passa em um país que não é informado qual é, onde quando um novo ano começa as pessoas simplesmente não morrem mais, enquanto nos outros paises continua a se morrer normalmente. Em função disto várias coisas acontecem no país, surge uma onda de patriotismo, a igreja se sente ameaçada, pois sempre falou a respeito da reencarnação, as funeráreas se revoltam pois o seu negócio simplesmente se torna inútil, as seguradoras também se dão conta de que seu negócio está ameaçado. Depois as funerárias se adaptam a demanda, e passam a cuidar apenas de animais e as seguradoras definem uma idade em que as pessoas seram consideradas mortas.
Passada a euforia inicial das pessoas, os problemas começam a aparecer. A previdencia social não vai dar conta de assegurar uma aposentadoria para as pessoas, pois as contas não vão fechar, vai ter muito mais pessoas velhas sempre e este número só vai aumentar já que nenhum idoso vai morrer e a população nova e ativa vai ser uma minoria que não vai poder custear isso. Algumas pessoas que simplesmente deveriam ter morrido simplesmente não tem condições de seguir uma vida normal devido ao modo brutal que deviam ter morrido e as consequencias disto, sendo assim acabam impactando na vida de suas famílias e de pessoas próximos. A densidade demográfica também acaba aumentando muito e logo as pessoas se dão conta que a morte ter deixado de atuar não é uma benção, mas sim uma maldição...
A segunda parte do livro também é excelente, nesta parte se passa a conhecer a Morte e sua história, além de se ter contato do romance que surge entre ela e um músico que ela já devia ter matado, porém ela simplesmente não consegue fazê-lo...
Trechos que mais legal:
"Sem morte, ouça-me bem, senhor primeiro-ministro, sem morte não há ressureição, e sem ressurreição não há igreja, ó diabo";
"Dizia o que qualquer católico, e o senhor não é uma exceção, tem obrigação de saber, que sem ressurreição não há igreja, além disso, como lhe veio à cabeça que deus poderá querer o seu próprio fim, afimá-lo é um sacrilégio";
"mas a vantagem da igreja é que, embora às vezes não o pareça, ao gerir o que está no alto, governa o que está embaixo";
"Não se esqueça, senhor primeiro-ministro, de que fora das fronteiras do nosso país se continua a morrer com toda a normalidade, e isso é um bom sinal.
Questão de ponto de vista, eminência, talvez lá de fora nos estejam a olhar como um oásis, um jardim, um novo paraíso.
Ou um inferno, se forem inteligentes";
"Bandeias tomaram conta da pasiagem, com maior visibilidade nas cidades pela evidente razão de estarem mais beneficiadas de varandas e janelas que o campo. Era impossível resisitir a um tal fervor patriótico, sobretudo porque, vindas não se sabia da onde, haviam começado a difundir-se certas declarações inquietantes, para não dizer francamente ameaçadoras, como fossem, por exemplo, quem não puser a imortal bandeira da pátria à janela da sua casa, não merece estar vivo";
"As primeiras e formais reclamações vieram das emrpesas do negócio funerário. Brutalmente desprovidos da sua matéria-prima";
"Uma terrível ameaça que vem pôr em perigo a sobrevivência da nossa indústria, foi que declarou aos órgãos de comunicação social o presidente da federação das companhia seguradoras."
"Apertado pelos governos dos três países limítrofes e pela oposição política interna, o chefe do governo condenou a desumana ação, apelou ao respeito pela vida e anunciou que as forças armadas tomariam imediatamente posições ao longo da fonteira para impedir a passagem de qualquer cidadão em estado de diminuição física terminal, que fosse o intento de sua própria iniciativa, quer determinado por arbitrária decisão de parentes";
"Durante duas semanas o plano funcionou mais ou menos na perfeição, mas a partir daí, uns quantos vigilantes começaram a queixar-se de que estavam a receber ameaças pelo telefone, cominando-os, se queriam viver uma vida tranquila, a fazerem vista grossa ao tŕafico clandestino de padecentes terminais, e mesmo a fechar os olhos por completo se não queria aumentar com seu próprio corpo a quantidade das pessoas de cuja observação haviam sido encarregados";
"A máphia está a negociar um outro acordo de cavalheiros com a indústria funerária com vista a uma racionalização de esforços e a uma distribuição de tarefas, o que significa, em linguagem de trazer por casa, que ela se encarrega de fornecer os mortos, contribuindo as agências funerárias com os meios e a técnica para enterrá-los";
"E agora como vou eu retificar um desvio que não podia ter sucedido, se um caso assim não tem precedentes, se nada de semelahnte está previsto nos regulamentos, perguntava-se a morte, sobretudo poruqe era com quarenta e nove anos que ele deveria ter morrido e não com os cinquenta que já tem. Via-se que a pobre morte estava perplexa, desconcertada, que pouco lhe faltava para começar a dar com a cabeça nas paredes de pura aflição";