Rafael.Montoito 12/04/2020
Retrato sempre atual da política brasileira
Creio que uma das características pela qual podemos identificar um clássico é sua atemporalidade e, se assim for, pelo menos no que diz respeito à política brasileira, este texto de Dias Gomes pode ser chamado como tal. A história de Odorico Paraguassu, "Dotô-Coroné-Prefeito" de uma perdida cidade baiana, continua sendo a mesma de vários políticos brasileiros que, colocando a honestidade de lado, pensam em tirar proveito da vida política.
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Após cumprir a promessa que fizera durante as eleições - construir um cemitério -, o prefeito se vê acuado pela oposição pois, como ninguém morre na tranquila cidade nem de doença e nem de discórdias, a obra recém feita não serve para nada. Disposto a tudo para conseguir um defunto e poder inaugurar o cemitério, Odorico faz intrigas entre os moradores e até mesmo manda chamar o matador profissional Zeca Diabo, um conhecido "fazedor de defuntos".
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Este texto (escrito originalmente para o teatro e anos depois adaptado para a tv) mostra bem o poder crítico e questionador das palavras do genial Dias Gomes; é acerca de textos como esse que às vezes me pergunto: "por que não se lê teatro na escola?" ou "por que Dias Gomes não é estudado nas aulas de literatura?".
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O cemitério, construído com o desvio das verbas que seriam destinadas para a iluminação pública e para melhorar a distribuição da água (bem tão necessário e raro no interior do nordeste brasileiro) ainda representa tantas obras não concluídas, o recorrente desvio de dinheiro público e a tamanha desonestidade dos políticos brasileiros.