@thereader2408 07/12/2023Esta obra entrará para os anais e menstruais de Sucupira e do país...Dias Gomes (1922) já se destacava como escritor de peças de teatro antes dos 20 anos. Nos anos 40 sua obra "Pé-de-cabra" foi proibida devido a censura feita pelo DIP do governo Getúlio Vargas, alegaram que a peça era de conteúdo marxista. Dias que nunca tinha lido uma linha sequer de Marx se interessou pelo assunto e acabou se filiando ao partido comunista.
Quando publicou "O Bem-Amado" (1962), as peças de Dias Gomes já se caracterizavam como comédia de costumes, teatro de revista e melodramas. As referências do homem são fortes, literatura nacional de primeiríssima qualidade: Jorge Amado, José de Alencar, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho e Machado de Assis.
O Bem-Amado se encaixa na “segunda fase” de Dias Gomes, que iniciou com O pagador de promessas de 1959. O texto foi encenado no teatro anos depois em 1970, em 1973 virou novela, em 1980 um seriado, em 2010 virou filme e este ano, 2023, vai virar um musical. O livro faz uma crítica perspicaz da política brasileira. Sucupira, a cidade baiana fictícia da trama, é praticamente uma metáfora do Brasil. O protagonista Odorico Paraguaçu é uma caricatura do típico político brasileiro.
Sucupira é uma cidade litorânea do interior, vive da pesca e do turismo, é retratada como uma região carente onde não há muitos recursos. Odorico espertamente vê na morte de um pescador uma oportunidade de fazer campanha política.Odorico sobe então no palanque e propõe a construção de um cemitério se o eleitorado o levar ao cargo de prefeito. “Vote num homem sério e ganhe um cemitério”. Ao se eleger passa seu mandato inteirinho tentando fazer o cemitério funcionar... mas como ninguém morria na cidade, Odorico procurou executar seus planos de inauguração do cemitério a todo custo.
O livro é cheio de humor e crítica social, tem como ponto forte a sátira ás promessas, políticas ineficientes e a troca de favores que teoricamente teriam sido extintos com a ascensão de Getúlio Vargas, mas que na prática nunca mudou. Dias buscou promover uma reflexão crítica sobre as dificuldades dos brasileiros da época e mesmo depois de quase meio século de publicação, o Bem-amado é o perfeito retrato do Brasil atual.
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