spoiler visualizarDIRCE 19/03/2023
De advogada do diabo a admiradora.
Advogada do diabo, eu? Não, apenas quero ser honesta neste meu comentário sobre este um romance autobiográfico Marcelo Rubens Paiva “Feliz ano velho”.
Ah! Os arroubos da juventude ... Álcool , sexo e Rock rol, um trio mais do que nocivo. O álcool o mais nocivo, tão nocivo que levou o narrador – o Marcelo Rubens Paiva – a mergulhar, como o Tio Patinhas mergulhava no seu cofre do moedas, esperando ouvir um biiiiin em uma lagoa com apenas meio metro de água. E ele ouviu, sim um biiiiin, longe, porém, estava de ser o das moedas do Tio Patinhas, era o som da batida da sua cabeça em uma pedra.
Resultado: de um estudante da Unicamp a um acamado em uma UTI , onde tudo que podia fazer era ver o teto, pois quebrara uma das vértebras. E o resultado de sua via-crúcis até a cadeira de rodas nos é narrado, com uma sinceridade desconcertante , bem como os flashbacks de sua infância até o acidente em uma linguagem que se fosse oral feriria meus ouvidos, mas como foi escrita feriu meus olhos.
Marcelo Rubens Paiva era um jovem extremamente machista, era um daqueles jovens que na minha juventude ( ontem mesmo) era chamado de galinha.
Mas não foi só sobre as dores do corpo, sobre as suas “peguetes” que ele nos fala. Em seus flashbacks, ele resgata um período tenebroso da nossa história: a Ditadura Militar. Menino ainda, seu pai sua mãe e sua irmã, ainda adolescente, foram levados. Sua irmã foi liberada logo em seguida, sua mãe interrogada por 15 dias e seu pai...Seu pai? Mais um dentre muitos desaparecidos misteriosamente.
Então, se eu iniciei meu comentário como uma espécie de advogado do diabo, eu concluo-o apaziguada com a obra e com o escritor. Isso porque não me limitei tão somente à leitura do livro, quis saber mais sobre o escritor – assisti muitas entrevistas suas, e cheguei à conclusão que cabe a ele uma frase do Albert Camus ; “ E no meio do inverno eu via nascer em mim um verão invencível”. ( Devo ter lido no livro A Peste, não me lembro muito bem, mas me vi refletida nessa frase muitas vezes).
Recomendadíssimo àqueles que não acreditam que o Brasil viveu uma Ditadura e aos jovens que acham que viver o carpe diem é viver perigosamente.
PS: Adorei o Marcelo Rubens Paiva adulto e quero ler mais obras suas.