Ana Paula 31/05/2021
Maria Carmem, quer ser minha amiga?
Se deus me chamar não vou já começa com este título forte e provocativo que me intrigou e me chamou, eu fui. Além de ser um retrato imersivo de um conturbado período, a pré-adolescência, em que pouco entendemos do funcionamento do mundo e de nós mesmos (algum dia compreenderemos?), este é um livro que trata de questões essenciais da humanidade, sobretudo a morte e o amor. Tudo isso por dentro da mente de Maria Carmem, uma menina de 11 anos em banho-maria. Porém, ela não é uma menina comum. Não, Maria Carmem quer ser escritora e, como não se considera escritora ainda, acha que não pode escrever sobre os outros, apenas sobre ela. Por isso, decide escrever um livro da sua própria vida, do seu longuíssimo interminável ano entre os seus 11 e 12 anos.
A narrativa deste livro é impressionante! Muito fluída e leve sem perder a profundidade e aquela inocência infantil que dá cor ao livro. Tive uma excelente experiência com o audiobook disponível no Storytel, super recomendo. Várias vezes pude ver eu mesma de 11 anos representada nesta obra, a linha de raciocínio, a inquietação e, especialmente, a solidão.
“Esta é a história deste ano, deste meu ano, não do ano de todo mundo, porque cada um está tendo um ano todo seu e eu só posso contar a história do ano que é meu. A não ser quando eu for escritora, aí sim vou poder contar a história do ano dos outros.”
A solidão permeia toda a obra, seja através da própria protagonista, seja pelos adultos à sua volta, principalmente os idosos - sua avó, um vizinho e os clientes da “loja de velhos” de seus pais.
“(...) e eu apareci, feito um bloco de solidão, que é a minha consistência.”
Além da solidão, este livro abre espaço para muitas reflexões sobre o papel de uma criança nas decisões familiares, o cuidado com idosos, bullying, autoimagem, relacionamentos românticos e tantos outros.
Poderia falar muito mais sobre o enredo, mas não quero dar spoiler pra ninguém. Então, sugiro fortemente que você prestigie esta obra nacional contemporânea e possa ter uma boa experiência, assim como eu tive.