Claudio.Kinzel 22/02/2023
Desejo genuíno de salvar a inocência das crianças
O que a primeira vista pode parecer uma história bobinha de um adolescente rebelde que larga a escola e decide viver uma aventura antes de voltar para casa é, na verdade, uma metáfora das dificuldades de amadurecer à medida que as mazelas da vida se apresentam. Holden é um adolescente sensível, que está em luto pela perda do irmão, que morreu quando ele tinha treze anos. Esse evento é essencial para se entender a construção do personagem. A revolta e desinteresse nos estudos representam um mecanismo de defesa diante da dor que ele carrega consigo. É sobre esta ótica que o livro deve ser lido. Por mais "privilégios" que um garoto de classe média possa ter, o que eles significam diante da dor da perda? Em diversos momentos, Holden sente-se deprimido e chora sem motivo aparente. A relação com a irmã mais nova, Phoebe, de profundo afeto, mostra quem é de fato Holden, sem as máscaras de ironia e irritação que moldam sua relação com o mundo. A cena do carrossel simboliza a infância perdida e de como ainda pode haver esperança mesmo com as mazelas da vida, e do sofrimento inerente a ela.
Assim, a metáfora do apanhador é um desejo genuíno de salvar a inocência das crianças, e quiçá a si próprio, do mundo adulto, que implica em sofrimento. Trata-se de um processo pelo qual todos os seres humanos passam, e por isso o livro transmite uma mensagem profunda, à medida que nos identificamos com o personagem, com a angústia característica da adolescência, e sua incerteza sobre o futuro. A linguagem simples e repleta de gírias, além da narrativa em primeira pessoa, ajudam o leitor a mergulhar na mente do protagonista, e entender a sua motivação para os eventos que são relatados na história.