vitormanoelfor 23/08/2020
RESENHA
CAMINHO LONGO, Vinícius Fernandes
Alerta: abordagem de luto e homofobia.
Em um milhão de (des)venturas, a vida, o caminho longo e, muitas vezes, difícil, como ela mesma se apresenta, Bruno ruma em direção à sua própria libertação, ao desarme de suas resistências, ao desatar das dores que introjetou, às despedidas e últimas vezes...
Bruno é um jovem branco e gay cuja família está longe de seus planos iniciais e, principalmente, de abraçar suas diferenças. Com excessão, apenas, de seu irmão, o Mateus. O único que, sem que dissesse nada, o compreendeu e o aceitou inteiramente. Seu melhor amigo. Sua melhor pessoa no mundo. Sua âncora, sem a qual Bruno se vê fadado ao oceano e sua fúria. Um barquinho de papel singrando em direção a lugar nenhum. Dando voltas ao redor da perda e da dor.
Será que descobrirá um caminho para fora da tempestade pessoal do luto? Esse caminho lhe será de todo bonito? Que outras tantas tempestades terá de enfrentar para, finalmente, desfrutar de um pouco de calmaria, ao seu redor e dentro de seu próprio peito?
Sua narrativa é fluída, e em primeira pessoa, intercalando os tempos em memórias do passado. A história nos embala num ritmo agradável. Os acontecimentos, seus (des)encantos, vão nos puxando para dentro. O drama desenvolvido nos faz quase que refém do pessimismo, ao esperamos sempre pelo pior, dado o histórico. Mas a realidade é que há beleza nos entremeios, e nos momentos, e é o que há. Apenas. E a mensagem é justamente essa.
Um Drama LGBT de Formação, ao abordar as questões/vivências supracitadas e girar ao redor de um jovem branco e gay, Caminho longo pode te cativar e emocionar a valer. De uma lição emocionante e que fica.
Entretanto, não poderia deixar de expressar o que, pessoalmente, me incomodou na obra, na abordagem dos únicos personagens negros que surgiram ao longo!
E me peguei pensando na classificação limitada desses personagens, como por "pele escura" e "tom de chocolate".
Mas por que, Vitor?
Antes de tudo: É a MINHA leitura. E de modo algum almejo desencorajar a leitura de Caminho longo, pelo contrário. Leiam! Conheçam os demais trabalhos do autor. Se permitam!
De forma objetiva, porque acredito que nós, pessoas negras, precisamos ler histórias cujos personagens NEGROS/PRETOS sejam ditos tais. Essas informações precisam estar EVIDENTES. Afinal, o mínimo que uma história pode fazer para validar a existência de um personagem negro é dizer que ele é NEGRO. Sem rodeios. Sem medo... Não existe coisa mais incômoda para mim que ler um personagem cuja cor de pele é descrita de mil jeitos, menos do jeito que a gente precisa que seja.
Quando se é tão necessário explicitar, validar, legitimar a existência NEGRA/PRETA na Literatura... Não existe razão pela qual mascarar nossa negritude.
No mais, uma leitura que indico de coração.