Neylane Naually
29/08/2023ReferênciaO quarto de Giovanni relata um romance instável entre um estadunidense, David, e um italiano, Giovanni, em Paris. O livro mostra uma linha muitas vezes impossível de ser cruzada entre os sentimentos e o que se deve fazer para seguir um rumo mais seguro na vida. David, ao escolher se afastar do amor que sente por Giovanni, acaba condenando os dois, acentuando a problemática da marginalização da homossexualidade e como isso impacta negativamente as relações afetivas. O enredo é bem simples e a história é curta, mas a escrita de James Baldwin é fenomenal e isso já se comprova nas primeiras páginas do livro.
Nós começamos a história já sabendo que Giovanni foi condenado à pena de morte, e aos poucos vamos descobrindo os motivos que levaram a essa sentença e como se deu todo o relacionamento dos dois. David se mostra em todo momento muito divido entre seus sentimentos homoafetivos e sua ética moral que exige que ele desemprenhe o papel de um homem heterossexual. Giovanni se entrega mesmo percebendo que talvez tudo acabe em corações partidos.
"Se não pode amar-me, eu morrerei. Antes de você vir, eu queria morrer. Já lhe contei muitas vezes. É cruel fazer-me querer viver, só para tornar minha morte mais sangrenta!"
Além da temática homoafetiva já chamativa para a época, o livro também chamou a atenção por não ter personagens negros. Baldwin, homem negro, era um autor em ascensão e marcado pela sua contribuição para a literatura afroamericana, na época o romance foi acusado de ser uma digressão. Porém, há de se considerar que Baldwin promove um questionamento acerca da percepção sobre o porquê de um autor negro ter que se ater a certos limites temáticos e não poder expandir as fronteiras da sua criação literária.
É uma obra lindíssima, triste, repleta de sensações e sentimentos e que foi escrita com muito afeto. Baldwin solidificou seu nome na literatura queer com um livro que até hoje é referência para diversos escritores e leitores ao redor do mundo.
"Alguém, seu pai ou o meu [...] devia ter dito que não são muitas as pessoas que morrem por amor. Mas multidões inteiras pereceram, e estão perecendo a toda hora e nos lugares mais estranhos, por falta dele"