bia prado 26/06/2021ESSA CAPA É MARAVILHOSA!!se você não pretende comprar livros, não recomendo seguir autores no twitter.
foi assim que cheguei em The Henna Wars, furando praticamente toda a minha fila de TBR. e tudo bem, porque, sinceramente, às vezes a gente só precisa de um romance sáfico. e posso afirmar que essa leitura foi uma bela surpresa!
aqui conhecemos a Nishat e já nas primeiras páginas ela faz algo muito corajoso: sai do armário para a família. com o casamento de uma amiga se aproximando, ela não quer mais esconder que não pretende se casar com um homem no futuro, mas sim com uma mulher. essa revelação acaba tendo várias ramificações durante a história e a autora consegue retratar bem temas como homofobia, conservadorismo e preconceito. a gente sabe que se assumir não é fácil, e dentro da cultura bengali isso pode ser ainda mais complicado.
além disso, Nishat é uma adolescente de Bangladesh que mora na Irlanda, então há um choque cultural muito grande entre nossa protagonista e suas colegas de turma. o racismo retratado aqui não é velado e a denúncia é clara. grupos minoritários sofrem preconceito e muitas vezes ele passa batido pela sociedade. até mesmo aqueles que chamamos de amigos podem nos decepcionar, pois não basta ser camarada nas horas boas, é preciso ser anti racista SEMPRE e ouvir aqueles que são atacados. eles tem voz para falar, mas não são ouvidos em sua maiora. Nishat tem uma colega que menospreza os comentários racistas como se eles não fossem tão graves, ou como se não tivessem sido feitos por mal, com intenção de magoar, e acho que esse foi o exemplo perfeito de muitas pessoas que, tecnicamente não são racistas, mas também não são aliadas. micro agressões só ajudam a perpetuar ainda mais o problema e devemos chamar a atenção para eles.
gostei bastante do relacionamento da Nishat com sua irmã mais nova, pois foi uma aliada importante durante a narrativa. elas tem suas diferenças, mas sempre buscam o melhor pra outra.
outro tema importante retratado é a apropriação cultural (das hennas, como diz no título). e ele vem justamente através do interesse amoroso da protagonista, a Flávia. então acaba rolando um pouco de friends to rivals to lovers. a Flávia tem mãe brasileira e pai irlandês e faz um contraponto muito fofo com a Nishat, mas também nos mostra que mesmo aqueles que gostamos podem nos magoar, ou não entender nossas lutas. a Flávia é negra, então ela também sofre racismo em certo ponto, mas isso não a isenta de também ter atitudes nocivas que causam dor. a forma como a autora retrata uma descendente de brasileira é interessante pois temos referencias à nossa cultura (brigadeiro,Tarsila do Amaral, Romero Brito) e em um momento a Flávia fala que no Brasil não se discute religião nem política e essa é uma frase que vejo muito por aqui (apesar de não concordar né...), então acho que teve uma boa pesquisa pra construir essa personagem sim.
aqui os relacionamentos são complexos e nem tudo são flores, mas a autora consegue criar um meio termo intercalando assuntos importantes e pesados com leveza e fofura.
recomendo ♥
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