Yasvie 10/06/2021
Espiral
Essa talvez venha a ser a resenha mais difícil que já fiz, sobre um assunto igualmente difícil, com fatos e acontecimentos caóticos e pesados, Columbine no meu ver se tornou, para mim, um livro tanto necessário como complicado de digerir em muitos aspectos, o assunto e a abordagem explícita elevam a escrita e desafiam o leitor ao extremo.
?Era hora do Plano B, mas não havia Plano B.?
Pág. 58
Sinceramente, é de se esperar, mesmo que o leitor não conheça a história, que os fatos sejam pesados de mais por causa assunto, mas ao decorrer do livro percebi que ele era mais do que esperei que fosse, de todos os modos. Columbine tem um aviso para maiores de dezoito anos e concordo com isso mas também gostaria de acrescentar que deve somente ser lido por pessoas menos sensíveis e com a cabeça mais aberta e saudável, se não pode acabar sendo doloroso demais.
?O caos e a solidão andavam lado a lado, geralmente a apenas alguns metros de distância.?
Pág. 62
No começo me surpreendi com a linguagem escolhida para narração, ela é simples e dinâmica, mesmo que a narração vá e volte no tempo e seja dita pelo ponto de vista de alguém que não estava lá para ver de perto os pontos principais - o autor é um jornalista que esteve ao redor durante o acontecimento -, ainda assim ele soube fazer com que as histórias fossem contadas, não só dos assassinos mas das vítimas, das famílias e do mundo todo que esteve presente naquele dia.
?Um repórter perguntou do motivo para a matança. ?Loucura?, Respondeu Stone. Errado de novo.
Para quem não conhece a história de Columbine e do que aconteceu no dia 20 de abril de 1999 - eu mesma tinha seis meses na época -, acredito que esse livro explique muito mais do que qualquer documentário ou pagina na internet, os mais jovens provavelmente já ouviram falar mas nunca entenderam o que aconteceu exatamente e os mais velhos ouviram falar e depois não receberam a conclusão das coisas. Columbine, livro do Dave Cullen, é necessário para esclarecer algumas coisas e pontuar outras, principalmente ajudar a não permitir que algo do tipo aconteça novamente.
?Dylan não está mais aqui para ser odiado?, disse. ?Então as pessoas vão odiar vocês.?
Pág. 101
Dave passou dez anos colhendo informação, aprendendo e estudando exatamente como abordar tudo o que aconteceu, e ele escolheu uma forma muito boa, explicou sobre os assassinos e os motivos que pareceram ter e também falou das vítimas e dos pontos de vistas deles, em nenhum momento ele tentou vitimizar o Eric e o Dylan, os assassinos, o que geralmente acontece quando se fala se assassinato em escolas, e a todo momento ele deixou claro que os dados que tinham sobre os dois era o que eles haviam deixado para trás e que até isso foi estudado por especialistas e psicólogos. Mas nem por isso o livro deixa de ser emocional.
?Culpar Satanás era apenas uma maneira de isentá-los da culpa, acreditava, e de nos esquivar da responsabilidade de investigar.?
Pág. 128
Em certo momento, o Dave fala sobre como algumas partes dos diários, e das coisas que ouviu, o machucou profundamente e fiquei contente em saber que não fui a única. Um dos assassinos em específico parece muito alguém que se tivesse sido ouvido, ajudado e afastado do outro ele poderia muito bem ter superado a péssima depressão que tinha, e isso não fui só eu que senti mas o autor também.
?Lembramos de Columbine como a dupla de párias góticos da Máfia do Sobretudo surtados, lançando-se pela escola à caça de alunos valentões para acertar contas antigas, mas quase nada disso aconteceu.?
Pág. 156
Esse ano também li Precisamos Falar Sobre o Kevin, que foi o início da minha vontade de ler Columbine. Lá a Eva, mãe do Kevin, fala com o filho sobre Columbine e o ponto de vista deles sobre, eu desejei ter lido esse aqui antes porque ficaria mais fácil entender o que acontecia com o Kevin e o resto da história. E os dois livros têm pontos parecidos, eu tenho 90% de certeza que a autora do primeiro leu Columbine, ela narra sobre como a mãe foi julgada culpada assim como os pais dos dois assassinos em Columbine também foram, ela fala sobre a dificuldade de ir ao mercado e ser reconhecida assim como a mãe de um deles, a reclusão, a tristeza, a confusão. Quem leu Columbine e leu Precisamos Falar Sobre o Kevin vai reconhecer varios elementos.
?Eric se porcaria o assassino mais fácil de compreender, porque sempre soube o que estava tramando. Dylan, não.?
Pág. 177
Cada pessoa lida com o luto de uma forma diferente e pontuei enquanto li que alguns foram mais extremos que outros de maneiras absurdas, no começo eu julguei assim como muitos fazem mas depois entendi, como o autor quer que você entenda, que cada um sentiu e viu algo diferente, somos todos únicos e isso nos faz diferentes e nossas reações diferem por isso. Por fim, fiquei feliz que ele soube me fazer sentir isso sem esfregar na minha cara o tempo todo.
?Também parece que mesmo a melhor criação pode não ser párea para a criança nascida para ser má.?
Pág. 243
Antes de reclamar de verdade e falar da única coisa que me incomodou gostaria de dar uma dica, não afetou minha leitura mas seria melhor se as fotos e textos, que o autor proporciona para dar melhor imersão na história, ficassem próximo da parte onde é citado, ajuda não ter que parar para ir procurar atrás e também fica mais dinâmico. Não é um problema, de jeito nenhum, o meu desconforto, e um pouco de raiva, foi somente um e com outra coisa.
?No congresso, porém, foi derrotada: nenhuma legislação nacional significativa de controle de armas foi decretada em resposta à Columbine.?
Pág. 301
Tenho somente uma reclamação, o mapa. Dave em algum momento depois da publicação do livro fez algumas alterações, ele acrescentou e tirou coisas que se provaram verdades e mentiras, ele também incluiu um mapa para ajudar no entendimento, o que realmente é necessário já que na primeira parte do livro o que acontece na escola é toda narrada e é necessário uma forma de se guiar para entender o que aconteceu, porém o mapa presente lá não ajuda, é péssimo e está em uma parte que a dobra do livro atrapalha, e mesmo sem isso ainda sim seria péssimo. Então, recomendo que, antes de tudo, busquem outro mapa, foi o que fiz, existem varios no Google e com eles o livro flui muito mais.
?A impressa declarou o incidente o novo recorde norte-americano e estremeceram diante da ideia de transformar tiroteios escolares em competição, mas, em seguida, deram o título a Cho.?
Pág. 346
Como falei antes, sinto que tenho que insistir de novo, a primeira parte talvez seja a mais longa do livro todo, não por ter mais páginas mas por ser difícil, pesada e caótica, muitas coisas acontecem e sem um mapa bom já é difícil e com ele continua sendo, são muitas pessoas e muitos lugares, é preciso calma e respirar fundo varias vezes para conseguir acompanhar, a leitura é simples e fácil mas a situação é que foi complicada, tive varias vezes a sensação de que uma página tinha o mesmo peso de ler dez.
?Um garoto perdido; poderíamos tê-lo salvado. Vejo agora que sempre me senti assim, mesmo quando o odiei - apenas não sabia disso.?
Pág. 371
Para aqueles que já leram ou irão ler, digo que tenham calma, depois que a história foi contada na primeira parte - porque sim, 80% do que acontece na escola é contada nas primeiras cem páginas - parece que o livro acabou, o que mais teria para dizer? Mas tem muito a si dizer e nada ao mesmo tempo, são só fatos e descobertas, são vítimas, porque é sobre isso que esse livro é, sobre as vítimas. Mas não todo aquele negócio de superação, isso não, aquele negócio de procure Deus e ele te ajudará que a gente vê em filmes, ou romance de achei o amor e estou bem, não, é realidade, é sofrimento e angústia, superação mas lenta e verdadeira, exatamente isso, esse livro é verdadeiro e cru, e doloroso por isso mas também necessário pelo mesmo motivo.
?Caixões abertos, funerais, lápides - nunca gostei nada disso. Mas nunca tinha tentado lamentar sem eles.?
Pág. 374
Não quero falar dos assassinos e de como eles são escritos e narrados a partir dos vídeos e diários que deixaram, não acho que conseguiria explicar tão bem quanto o Dave, ele fez tudo muito bem, explicou sobre psicopatia, depressão e luto, falou sobre política de armamento e a sociedade da época, ele fez isso muito bem, está tudo lá explicado e claro e é isso que fez esse livro tão imprescindível.
?Assassinos continuam tentando reviver a glória e o júbilo de Columbine, mas não houve nada disso. A narrativa é duplamente falsa.?
Pág. 385
Há tanta coisa que poderia ter sido evitada se as pessoas só prestassem mais atenção umas nas outras, todos falam tanto e de coisas tão desnecessárias mas ignoraram quando é realmente preciso ver, só vemos o que queremos mas o que queremos nem sempre é o que precisa ser visto, Columbine é uma prova disso.
?Depressão adolescente: a maior lição não aprendida de Columbine.?
Pág. 387