Alana 13/01/2023
três mulheres nos conta sobre o projeto da autora que acompanhou mulheres por 8 anos, ouvindo suas histórias reais de vida.
Quando se atinge a marca de um terço do livro, é difícil não ver uma linha unindo a histórias dessas 3 mulheres: os homens a sua volta se beneficiam do seu silêncio e solidão causados pelo medo de um linchamento moral que essas vítimas de abusos sexuais e psicológicos tem da sociedade, incluindo outras mulheres - mães, irmãs e amigas.
É difícil e doloroso tentar estimar o quanto abuso, sofrimento, experiências que as traumatizaram para sempre e minaram grande parte de seu potencial teriam sido evitadas, não fosse o puritanismo cínico em que vivemos. E fica claro porque é tão árduo mudar essa realidade; mulheres fragilizadas, sozinhas, são mais fáceis de manipular. E ainda assim, todos os homens (desse livro, pelo menos) saíram em grande parte ilesos, muitas vezes acobertados por outras mulheres.
É raro não se enxergar em alguns dos dramas vividos por essas três mulheres: a nossa experiência vivendo nesse mundo, como mulheres, é muito similar. E ainda assim fica o mistério: porque é tão raro encontrar empatia? Por isso acho tão importante o papel desse livro de desnudar todo o trauma vivido por elas, somente compartilhando todos as partes deles: traumas de infância, os abusos, as cenas explícitas de sexo (que ironicamente incomodaram alguns leitores, afinal o desejo deve ficar escondido embaixo do tapete, e não discutido), as claras manipulações, a vaidade feminina, a depressão, a constante busca pelo corpo perfeito, a eterna culpa dentro de nós. Somente com tudo exposto as claras é possível identificar as vítimas e clarear a nossa cabeça: paramos de julgar situações semelhantes ao nosso redor.
Trechos:
"Mesmo quando as mulheres são ouvidas, muitas vezes apenas aquelas do tipo certo são ouvidas de fato."
"A sociedade trata meninas, como a menina que Maggie era, como adultos que tem a capacidade de tomar boas decisões. Ela era uma garota inteligente com algumas dificuldades. Um professor como Aaron poderia ter sido o catalisador que a impulsionaria para uma vida inteira de confiança e realizações. Em vez disso, ele se tornou o oposto. Muitas pessoas, tanto homens como mulheres, que aceitavam a verdade de Maggie, me disseram: Ela quis, ela pediu. Mas para mim Maggie não pediu. Ela aceitou, da mesma forma que uma criança aceita uma condecoração, um presente. O desejo de Maggie de ser amada, de que alguém lhe dissesse que era um ser valioso no mundo, foi atacado por sua ousadia."