Dri 02/10/2021
Vamos de livro devastador hoje?
Escrito por uma mulher, para todas as mulheres. Alerta gatilho! Ele tem tantos, que a contento não os descrevê-lo-ei.
Já li livros muito mais pesados, densos, com descrições muito mais violentas, trágicas, desumanas, entretanto, ele mexeu demais comigo, me desestabilizou, destruiu. Talvez pelo desespero que me denominou diante de situações tão ruins, a ponto de querer sacudir os personagens. Ou talvez seja simplesmente pelas minhas próprias experiências (mais provável). Impossível uma mulher, criada nesse sistema patriarcal opressor, não se identificar com algo, por mínimo que seja, de forma direta ou indireta. É o tipo de história que você não sabe realmente o que vai te afetar. Confesso, grifei muitas partes, enchi de post its cheios de pensamentos, que precisava expressar naquele momento.
Trata-se de não-ficção, escrito como romance. A autora acompanhou de perto a vida dessas mulheres, por anos, mudando até de cidade, para não as perder e saber como expressar suas histórias. Muitas desistiram pelo caminho e, as que ficaram, constituíram o livro. Percebe-se que a própria Lisa, apesar de sua dor particular, narrada no epilogo, sofre para escrever determinados contextos, com algumas frases mais infantilizadas pelo caminho, mas sem perder a essência da proposta.
A mulher é pressionada de tantas formas diferentes, sufocada, culpada pelas atrocidades que os homens cometem, culpada ao procurar o próprio prazer, culpada por querer ser feliz, culpada por pensar em si mesma, culpada ao ser violentada, culpada ao querer mais do que uma existência medíocre ao lado de um macho qualquer; que tantas e tantas vivem infelizes, doentes, normalizando o que não deve ser normalizado, tornando-se cada vez mais deprimidas, inferiorizadas, controladas pela sociedade machista.
Aqui, conheceremos 3 mulheres: Sloane, Lina e Maggie. São completamente diferentes mas, noto, como características em comum: elas queriam ser vistas, respeitadas, amadas, por quem realmente eram, sem precisarem se esconder. Essa fragilidade mal elaborada abre margem pra tantos perigos, é como se uma porta se abrisse para determinados tipos de pessoas, àquelas que realmente podem te ferir como ninguém mais. Quem nunca se sentiu só por não se encaixar no lugar que está?
Os capítulos são alternados entre elas e pode causar um certo estranhamento na edição. Eu não senti, mas li com mais duas amigas, que não gostaram da tradução; referiram uma certa literalidade que não existe no português.
E você, conhecia o livro? Já leu? Leria? Conta pra mim? Instagram: @cartasdoabismo