Edu 21/01/2021
Capitães da Areia (sem spoilers)
Estou de coração partido depois dessa leitura...
Capitães da Areia é um romance modernista de segunda geração (me corrijam se eu estiver errado rsrsrs) de Jorge Amado, escrito em 1937 e se passa na Bahia. Lembrando que o Modernismo fora o período literário brasileiro que durou mais o ou menos até a primeira metade do século XX, e tinha uma preocupação grande em retratar os problemas sociais e era fortemente marcado pelo regionalismo (a 2ª geração).
Mas não é qualquer Bahia que é retratado, é a Bahia dos pobres, dos abandonados, dos doqueiros, dos Capitães da Areia. Bahia dos esquecidos pela sociedade, dos marginalizados. "Capitães da Areia" vai nos mostrar como é a vida do pessoal pobre, mais especificamente a vida dos Capitães da Areia, um grupo de mais de cem crianças abandonadas nas ruas da cidade que dedicam toda a sua vida ao roubo e ao crime.
Uma coisa que eu tenho que falar é que essas crianças, por não terem tido uma infância adequada, os carinhos de uma família que a ame, não só se comportam, como praticamente já são homenzinhos formados, pois elas já fumam, tem uma linguagem muito madura para a idade, elas já esperimentam os segredos biológicos do amor e já tem um pensamento muito maduro pra idade delas, pensamentos esses de analisar mesmo as condições sociais em que vivem, as diferenças sociais entre a classe mais rica da cidade e a classe mais pobre. Elas já tem um pensamento muito profundo das desigualdades sociais da Bahia.
E vivendo em meio a tanta miséria e falta de amor e carinho, essas crianças são obrigadas a furtarem para sobreviver, pois ninguém se solidariza, ninguém ajuda esses meninos, eles estão esquecido lá no trapiche em que moram, só aumentando cada vez mais o ódio contra os policiais, que os enxergam como marginalizados e que muitas vezes no livro os maltratam e os espancam; contra os ricos da cidade, que na visão deles são os principais motivos de haver tanta desigualdade social, os meninos os culpam pela situação deplorável em que se encontram; e até pela vida.
Não quero falar sobre os personagens, pois seria interessante que vocês mesmos lessem e tivessem a própria visão e opinião sobre eles, mas pra exemplificar isso que eu escrevi, pelo personagem Sem-Pernas, um menino coxo, é possível enxergar solidamente a crescente do ódio que ele carrega para com todos, que era tão grande a ponto de o levar a cometer suicídio em uma situação com alguns policiais.
Um capítulo que eu tenho que dar destaque é o capítulo do Carrossel. Vocês já entenderam que essas crianças são uns pobres miseráveis, que não tem amor e nem carinho e que vivem como homens adultos. Mas certa vez um carrossel japonês aparece na cidade, encantando os corações dos Capitães da Areia, e é nesse ponto que cai a ficha de que os personagens são só crianças, uns meninos de oito a dezesseis anos, e não homens formados. E é nesse capítulo que pela primeira vez eles se esquecem da vida marginalizada que levam, por estarem ocupados demais brincando pela primeira vez, num carrossel japonês. E em meio a uma vida triste que levam, eles se alegram com as luzes brilhantes e a música alegre do pequeno carrossel japonês.
O livro é muito triste, de cortar o coração. É de ler e ficar angustiado, e se alguém conseguir ler sem sentir nada, nenhum remorso ou empatia com aqueles meninos órfãos, essa pessoa já morreu faz tempo, e a humanidade não brilha nos seus olhos.
Uma bela de uma crítica social, crítica ao capitalismo, crítica à sociedade que vira as costas para os necessitados, que só pensa em si, que não ajuda, que não se coloca no lugar do outro. Crítica à um mundo onde a balança sempre pensei para um lado, e nada é justo.