Queria Estar Lendo 21/11/2019
Resenha: As Quatro Rainhas Mortas
As Quatro Rainhas Mortas é um standalone escrito pela autora Astrid Scholte e lançado recentemente pela Galera Record - que cedeu o exemplar em cortesia. Prometia ser uma história com tramas políticas intensas e reviravoltas investigativas emocionantes, tudo isso ambientado num mundo fantástico completamente novo. No fim das contas, não deu muito certo.
A trama se passa no continente de Quadara, onde quatro rainhas reinam juntas, cada uma responsável por um quadrante específico. Quando uma delas é assassinada, as tramas políticas e segredos sombrios escondidos dentro das paredes do palácio começam vir à tona, e parece questão de tempo até que o assassino cace as governantes que restaram.
Eu usei o exemplo de "farofa" pra explicar pra uma amiga o que estava acontecendo na história e foi essa sensação que me acompanhou durante toda a leitura: junte um monte de ingredientes numa mistureba e você tem esse livro; só que, infelizmente para ele, a farofa não ficou boa.
A autora criou um mundo com ares antigos, mas ao mesmo tempo com um quadrante todo tecnológico. Mostrou quatro rainhas mas de repente tinha seus conselheiros, aias, interesses amorosos, investigador, antigas rainhas, antigos reis, aí mostrou outra personagem fora do núcleo do palácio que tinha todo um núcleo só dela com aliados, inimigos, inimigos caçadores, um mensageiro, família, conhecidos. Para que eu tô muito confusa! (Narrador: nunca parou).
Em trinta páginas esse livro tinha me apresentado TANTOS personagens (a maioria bem superficialmente) que eu não sabia para onde estava indo, só tinha certeza de que não ia dar certo. Tive a mesma sensação vazia e perdida com Três Coroas Negras e não errei com o feeling, porque a perdição aqui foi idêntica.
As Quatro Rainhas Mortas tem seus méritos, com uma narrativa bem construída, diálogos bastante naturais e interessantes e até se sustenta no mistério sobre os assassinatos das rainhas - ainda que tenha um detalhezinho ali no meio que entregou completamente o mistério do assassino - mas se perde com todo o resto.
A sensação foi que a autora tentou colocar tanta coisa em um livro solo que acabou não colocando nada, sabe? O fato de você se perder nos núcleos por causa da quantidade de personagens e lugares citados é frustrante. Eu cheguei no fim do livro sem saber direito quem era qual rainha e elas eram só quatro (mas o fato de a narrativa citar TANTA gente levianamente enquanto as estava desenvolvendo tornou suas presenças igualmente levianas).
Eu não me liguei a nenhum personagem com exceção da rainha Corra - que, dentre todas, tinha um plano de fundo mais instigante - e foi uma pena, porque as rainhas tinham personalidades e segredos interessantes. Só faltou espaço na trama para que elas me ganhassem.
Eu não tenho nada contra narrativas rápidas, mas existe uma grande diferença entre contar informações de maneiras periódicas para deixar o texto mais fluido e jogar tudo na minha cara pra desenvolver o mistério no resto da história. Esse livro fez a segunda coisa.
"Conheça todas as coisas, e você compreenderá tudo."
Por exemplo, a questão do PORQUE existem quatro rainhas para governar os quadrantes. Tá, ela explica em alguns parágrafos e aí segue o baile. Eu queria me ligar a isso, queria sentir pena das rainhas por estarem presas a tantas leis ridículas, queria sentir frustração por elas não poderem mudar isso, queria que a história do mundo revoltasse para poder me importar com elas. Mas não senti absolutamente nada porque o texto não me deu tempo disso.
A outra personagem distante dos núcleos da realeza é a Keralie, uma larápia que vive nas ruas a comando de um "rei do crime", por assim dizer. Ela se envolve na trama das rainhas de maneira inesperada e conta com a companhia de um mensageiro que desconhecia até pouco tempo para se entender nessa bagunça toda.
Ela foi legal, teve seus momentos descontraídos. Uma óbvia anti-heroína feita para a gente se ligar - diferente da pompa e circunstância das rainhas, Keralie é a alma jovem rebelde e perdida num mundo de indiferenças e problemas. De TODO MUNDO na história, ela foi com certeza a que mais teve desenvolvimento - já que, a cada POV de uma rainha, voltávamos para sua trama linear. Foi o que mais me agradou no livro como um todo, especialmente do meio para o final.
A parte do romance com o mensageiro... Nhé? Claramente ali só pra cumprir cota de romance heterossexual em fantasia e eu tenho 100% de preguiça disso, porque desenvolvimento que é bom nada.
O mistério e as investigações sobre as rainhas foram ok, eu diria. Nada surpreendente, com exceção de um twist no fim que DEU PRA VER NITIDAMENTE ANTES DE ACONTECER, repito. E eu não sou boa adivinhando tramas de assassinato!
A edição da Galera Record está linda demais, com os mapas estampados atrás da capa e contracapa, com uma diagramação e revisão perfeitinhas.
É uma pena, como disse uma amiga, ver uma ideia tão curiosa se perder no desenvolvimento. A autora prometeu tanto que não conseguiu cumprir quase nada, com exceção da narrativa bem feita e da criação de uma trama investigativa interessante. Eu queria muito não ter me decepcionado, mas aconteceu.
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