Aegla.Benevides 15/01/2021Menos suspense, mais introspecçãoEsse é um livro que merece todo o hype que recebeu desde que foi lançado. Não porque a autora utiliza palavras difíceis e bonitas, ou porque trabalha a relação do leitor com os personagens, e sim porque consegue unir diversos temas, gêneros literários e estilos de escrita em uma só história, e o resultado é algo totalmente original e diferente da literatura tradicional.
?
Sobre os ossos dos mortos conta a história da sra. Dusheiko, uma professora e engenheira aposentada que vive em um vilarejo isolado no norte da Europa. Por si só, ela já representa um perfil ímpar para uma protagonista: é uma senhora muito reservada, vegetariana, astróloga e defende veemente os direitos dos animais.
?
A história tem início com a morte de um dos poucos vizinhos da sra. Dusheiko, que acontece em condições peculiares. Após esse acontecimento, nossa protagonista começa a enxergar que essas condições, outrora peculiares, apontam todas para um mesmo desfecho: os animais do vilarejo estão se vingando dos homens e causando mortes por isso.
?
Após o primeiro "assassinato", outros acontecem em sequência. Em comum, todas as vítimas possuem o hábito de caçar animais ilegalmente, e isso convence a sra. Dusheiko de que os bichos são os responsáveis pelos crimes ? certeza que ela deixa bem clara em suas conversas com vizinhos, colegas e até com a polícia local.
?
Apesar de iniciar de um jeito mais "macabro", o que pode gerar no leitor a ansiedade por um thriller com cenas assustadoras a todo instante, não é isso que encontramos no livro. Trata-se, em essência, de uma narrativa instrospectiva, na qual podemos adentrar os pensamentos aleatórios e característicos da sra. Dusheiko, filosófica e cheia de temas que dificilmente são abordados de forma tão natural em livros, como sanidade mental, solidão e amizade.
?
Por fim, são tantas colocações sutis que mexeram comigo que se eu fosse citar de uma por uma, daria um vídeo. O encerramento da história é um dos melhores que já li e dá ao leitor tudo o que ele merece e mais um pouco, com direito a frase de efeito, plot twist e um total de zero pontos sem nó. Não posso afirmar que valeu o Nobel, pois nunca li outra obra dela, mas definitivamente é um livro que merece ser conhecido e apreciado (mesmo que você não se identifique com a sra. Dusheiko, o que, vai por mim, tem 90% de chance de acontecer).