@retratodaleitora 13/01/2020“Essa Gente” é o último romance publicado do escritor, cantor e compositor Chico Buarque. Sou grande admiradora de seu trabalho na música, mas esse foi meu primeiro contato com sua literatura.
Neste curto romance de narrativa epistolar somos apresentados a Manuel Duarte, um escritor de 66 anos, divorciado e em uma grande crise financeira após passar anos sem publicar nada tão notável quanto seu primeiro livro, que lhe rendeu alguma fama no mercado editorial. Para tentar voltar novamente ao mercado, ele começa a escrever seu próximo romance em meio a um bloqueio criativo que é piorado pelos seus traumas pessoais, sua relação conturbada com as ex-esposas, sua falta de comunicação com o filho (é um pai ausente), e a crise política do país no começo de 2019, uma vez que a história tem seu desenrolar neste ano.
O que encontrei nesse protagonista foi um homem mesquinho, egocêntrico, machista e conivente com violência e racismo. Em um ponto ele, o protagonista, chega a comparar mulheres a desgraças, além de sexualizar todas as personagens femininas do livro. Por muitas vezes o personagem de Duarte se distancia dos conflitos que acontecem ao seu redor se refugiando em sonhos eróticos/absurdos. Essa troca do real para a ilusão foram bem trabalhadas, mas ainda assim a falta de emoção do personagem não faz nada pelo leitor, que, e aqui falo por mim: também não consegue sentir muita coisa.
Não sou contra personagens boêmios; acontece que a falta de noção desse personagem, somada a falta de ação e emoção na narrativa, me entediaram de tal forma que só a indignação pelas passagens sexistas e racistas me moveram a continuar e ver até onde ia tudo aquilo. E o final? Uma bagunça.
É um livro rápido, fácil de ler, e extremamente simples, mas sua execução foi rasa, carente de um ritmo melhor. E cadê as críticas sociais sobre a situação do país? O que eu vi foi um personagem totalmente ignorante sendo conivente com todo tipo de violência e voltando para seu apartamento de gente rica no final para ter, dos desfechos, o mais previsível. Se o autor queria isso e queria gerar desconforto, foi bem sucedido. Não foi um livro para mim.
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