llRods 27/05/2024
Não possuo as suas crenças, mas desejo a sua inquietação
Estava bem empolgado para ler este livro. Tinha acabado de ler Noites Brancas, do mesmo autor, e fique entusiasmado para ler mais, então comecei com expectativas altas.
Como todos os livros da Antofágica, começamos com um ótimo texto de apresentação, e este, meio revoltado, do jeito que eu gosto:
?O que é mesmo ridículo é que sejamos tão neuróticos, carentes, doentes e apegados às antigas tradições de predação, opressão, discriminação, instrumentalização, objetificação e ostentação. O que poderíamos de repente aprender e pronto: ser - e que nunca vem. E o tempo passa, e o sofrimento se alastra, e a gente pasta??
E então o livro começa? e me desaponta. Na maior parte da historia eu não estava entendendo a viagem. O começo é pesado, parecia preparar pra algo tenso, mas quando vêm o sonho, não encontrei muito sentido. Não dava muito a entender qual era o ponto, onde ele queria chegar com aquilo. Era só a confirmação de um mundo ruim e, no sonho, um mundo utópico, quase um paraíso bíblico. Até que o mundo dos sonhos é corrompido, e nessa hora tudo fez sentido.
O ser humano foi corrompido pelo ciúme, pelo desejo, foi virando cada vez mais individualista, egocêntrico, e aos poucos, aquele mundo se transformou no nosso. É uma critica à perda dos valores do sentimento, colocando a ciência no lugar ao enxergar ela de forma distorcida.
Não me entenda mal, pessoalmente acredito que a ciência é nosso passado, presente e futuro, mas ela não está acima de tudo, e é assim que interpreto esse livro. O conhecimento das leis da felicidade não está e nunca estará acima da própria felicidade, tão pouco a consciência da vida está acima da própria vida. O conhecimento é apenas uma das ferramentas para a construção de uma vida feliz.
Mas isso não adiantara de nada se olharmos só pra dentro, pro eu. Não é a toa que existe a frase ?A ignorância é uma benção?.
É no coletivo que mudamos o mundo, olhando e amando. Fazer o bem sem ver a quem. É clichê, mas é fato, e muitos teimam em achar que é só uma frase de efeito, logo ?não farei pois o outro não fará?. Por isso vivemos essa distopia, tão bem descrita por Dostoiévski.
Sei que o texto foi escrito por uma visão cristã, da qual discordo de muitas formas, mas, como diz Celso Frateschi no texto complementar:
"Não possuo as suas crenças, mas desejo a sua inquietação. Busco no seu sonho, ridículo como todos os sonhos, aquilo que rejuvenesce e religa a velhice do contemporâneo ao imaginário da infância da humanidade.?