Marcola. 26/09/2013
Admirável Mundo Novo
Depois de ter começado e interrompido a leitura há alguns anos precisei do grupo de debate para encará-lo novamente. Por isso agradeço a galera do grupo pela oportunidade de discutir o livro, pois anotando as partes que mais gostei ou não, absorvi muito mais desta obra clássica.
O ano é 2495, 632 depois de Ford, segundo o livro a sociedade humana está no ápice de sua evolução e provém a todos os seres alimentação, segurança, diversão, saúde, educação e muito mais. Algo impar na história da humanidade.
A visita de alguns estudantes ao "Centro de Incubação e Condicionamento de Londres Central" serve como uma introdução ao leitor nesta sociedade incrivelmente alternativa que a cada página se torna mais chocante aos nossos padrões.
A ideia de uma linha de produção de seres humanos, segundo os preceitos Fordianos, altamente eficiente que desde o início da formação do ser humano determina e prepara cada embrião para sua função na sociedade, me deixou boquiaberto. Parecia um criadouro de gado versão ser humano. Muito bem escrito este início, com o parenteses de que de que embriões expostos a radiação com certeza teriam sérios problemas, mas isto ainda não era totalmente reconhecido em 1932 quando o livro foi escrito.
O criadouro era tão bem organizado que parecia impossível que as pessoas conseguissem mudar de casta, questionar o sistema em que estavam vivendo, sendo incrivelmente felizes mesmo que seu trabalho e posição fossem as piores. Toda a crueldade de negar oxigênio, expor ao calor, radiação e outras barbáries eram aceitas com naturalidade pelas pessoas. A infância era considerada inútil e improdutiva. Uma lavagem cerebral muito maior que a mostrada no filme "Laranja Mecânica".
Segundo o livro o segredo da felicidade e da virtude é: amarmos o que somos obrigados a fazer. Nos dias atuais isso é muito diferente? Ou seria "fazer o que somos abrigados a amar"? Até que pontos somos expostos e influenciados por opiniões erradas? Até que ponto somos empurrados para determinados caminhos por uma mão poderosa e invisível? Esta é uma lição que levo do livro, o que forma os nossas ações? Os motivos pelos quais escolhi, optei, agi, votei, me revoltei, ri, chorei, comprei, briguei são baseados em quais padrões? Quais são os corretos? O livro "Discurso do Método" de René Descartes tenta mostrar uma forma de ser o mais correto possível nas suas escolhas. Algo cada vez mais difícil nos tempos atuais. Huxley fala das "Salas de Condicionamento Neopavloviano", Pavlov descobriu com cães o reflexo condicionado, hoje propagandas, lojas, mídias, restaurantes, shoppings, utilizam destes conceitos para nos fazer agir da forma mais vantajosa para eles.
Numa fase mais avançada as pessoas eram submetidas a hipnopedia. O ensino pelo sono. Todo esse processo demostrado criava seres anestesiados para a grande maioria das sensações e pensamentos, sem nenhuma vontade própria, que logicamente nunca questionavam o sistema que estão inseridos.
Conceitos como liberalismo, cultura, democracia, individualidade são relatados como absurdos, algo incompatível com a ordem social. "A volta à cultura...Não se pode consumir muita coisa se fica sentado lendo livros."
Mesmo com todo esse todo esse aparato para a lavagem cerebral, ainda existiam alguns humanos que tinham ideias diferentes e buscavam sentir novas experiencias e coube a estes pseudo-heróis questionarem o sistema. "Isso me dá a sensação... de ser mais eu... De agir por mim mesmo, e não tão completamente como parte de alguma outra coisa. De não ser simplesmente uma célula no corpo social...""Mas você não deseja ter liberdade para ser feliz de algum outro modo, Lenina? De um modo pessoal..." Maravilhosas indagações que valeram o livro.
Quando os personagens conhecem os selvagens o choque de culturas é gigantesco, interessante destacar que a mulher que havia se perdido há alguns anos continuava como as mesmas ideias de sua sociedade, com apenas uma diferença, ela amava e cuidava de seu filho. Mesmo não estando preparada para os desafios de ser mãe. O instinto materno sobrepujou anos de condicionamento mental.
Os selvagens são inseridos na sociedade e com suas ideias agitam a estagnada sociedade, nada como um pouco de caos para trazer mudanças.
Pena que um de nossos pseudo-heróis se entrega facilmente aos prazeres do sistema ao experimentar um pouco de fama e nome, mostrando a fraqueza humana. Arrisco a dizer que Aldous duvidava da raça humana e o final do livro irá provar isso.
A importância das drogas na sociedade humana é representada pelo uso do soma, algo que adormece ainda mais a mente para as questões primordiais, traz uma falsa alegria sem nem dar ressaca. Uma ótima crítica do autor as drogas legais e ilegais.
A inserção de trechos de poesias foi muito boa, nada melhor que Shakespeare para trazer luz e vida a esta sociedade estéril.
O modo como eles encaram a morte é realmente bem evoluído, a morte é algo completamente natural ao ciclo da vida, choro, tristeza e sofrimento só atrapalham a vida dos que ficam e nada ajuda pra quem foi. Minhas ideias sobre o assunto são parecidas com as do livro.
O confronto entre o selvagem e o Grande Governante é incrível, o ponto alto do livro. Divagações sobre Deus, literatura, religião, sofrimentos, liberdade dão um toque de filosofia ao livro. Filosofia boa e fácil de entender. Por isso ele é um clássico.
O único motivo pelo qual dei 4 estrelas foi pelo final. O selvagem se matar depois de vivenciar tudo aquilo e ainda conseguir manter o seu estilo de vida foi uma prova de que o escritor duvidava da força de nossa raça. Eu gostaria de um final onde o selvagem saísse vitorioso, que por menor que tivesse sido sua influencia ela teria alterado e melhorado a vida humana nessa sociedade futurística. Fiquei realmente decepcionado ao ler que nosso pseudo-herói estava pendurado pelo pescoço. Acho que o autor quis dizer que a maioria de nós desiste frente a grande provações, e isso dói de se ouvir.