A novela Noite é única na obra de Érico Veríssimo. Isenta do caráter épico de O Tempo e o Vento, não pratica a crônica de costumes dos romances do "ciclo de Porto Alegre", não busca o realismo e não tem o tom de crítica e sátira política de O Senhor Embaixador e Incidente em Antares.
Noite é uma viagem ao interior da culpa. O personagem central, o "Desconhecido", ou "Homem de gris", perambula pelas ruas de uma cidade submersa no anonimato sem reconhecê-las. Não sabe quem é, nem de onde veio, nem aonde dirigir seus passos. Atormenta-o uma culpa inenarrável. Sabe que cometeu um crime, mas não sabe como fazer para descobrir qual foi esse crime - e qual é sua identidade.
Usando os cenários conhecidos, Erico compôs o painel social de uma sociedade que se perdeu em seus labirintos, tomada pelo anseio de modernidade, e ao mesmo tempo presa a suas raízes do passado. A novela fala de seres neutralizados pelo anonimato que caracteriza a modernidade: por isso todos os personagens flutuam no espaço intermediário das almas condenadas ao eterno purgatório.
Envolvido numa guerra fratricida em terra estrangeira, um tenente prestes a voltar a seu país presencia uma cena dramática: uma bomba destrói o bordel onde ele estava poucos momentos antes e mata a moça por quem se apaixonara. Um dos terroristas, capturado logo depois pelas forças aliadas, é um jovem de apenas dezenove anos cujas feições o remetem à amante morta. O coronel encarrega o oficial de interrogar o prisioneiro e descobrir o paradeiro de uma segunda bomba. Não há tempo a perder. O tenente tem duas horas para obter a verdade. Escrito em 1967, o romance se inspira nos eventos da Guerra do Vietnã. Érico Veríssimo descreveu-o como "fábula moderna sobre vários aspectos da estupidez humana", entre os quais a guerra e o racismo. O tenente negro sofre preconceito em sua terra natal. Reluta se deve ceder à engrenagem - a mesma que tirou a vida de seu pai. A vida e a dignidade de um homem valem menos do que a vida das muitas pessoas que o tenente poderia salvar? Os fins justificam os meios? Romance de conteúdo antibelicista com profunda repercussão moral, O prisioneiro suscita questões urgentes ainda em nossos dias.
Ficção / Literatura Brasileira