Vitorcfab 26/01/2022
The House In The Cerulean Sea
Linnus é um homem de 40 anos que trabalha para um departamento do governo que cuida de crianças com poderes mágicos. Desanimado com a rotina enfadonha de sua vida, aceita a tarefa de cuidar das 6 crianças mais especiais que estão sob controle dessa organização, crianças que podem até mesmo causar o fim do mundo...entre elas, o próprio anticristo (literalmente).
Já começo dizendo que esse livro me surpreendeu de todas as formas possíveis, e se tornou um dos meus favoritos do ano...e da vida.
Apesar da sinopse sugerir uma história de fantasia, esse elemento é bastante sútil durante toda a leitura e passa longe de ser o foco. Essa é na verdade uma história sobre o amor entre dois homens e a construção de uma família...a definição mais correta e abrangente de família.
É um livro simplesmente LINDO, que me deixou com um forte sentimento de felicidade ao terminar, sentimento que poucos livros me proporcionaram com igual intensidade.
Linnus é um homem de meia idade, metódico, solitário, e extremamente pacífico, o tipo de pessoa que evita até expor sua opinião para fugir de discussões. Ele vive apenas para o trabalho, negligenciando a própria felicidade, evitando seus sentimentos e pensamentos de melhores perspectivas de vida.
Ao se mudar para a ilha onde essas crianças vivem e começar a conviver com elas, passará por fortes mudanças, recuperando seu lado mais sentimental e construindo aos poucos laços afetivos complexos por cada integrante daquele lugar, passando a vê-los como uma família.
Arthur Parnasus é um homem de 45 anos e o principal encarregado de cuidar das crianças. Ele se vê como o pai de cada uma delas, e está disposto a fazer tudo que for necessário para garantir a felicidade dos jovens.
Arthur não deseja apenas protegê-los, mas também lhes dar perspectiva de vida e ajudar a inseri-los na sociedade. Ele sofre muito por saber de todo preconceito que afetará essas crianças, mas tenta fazer o melhor possível para conforta-los e guia-los na melhor direção.
Mas nada disso o isenta de cometer erros. Ele pode ser explosivo e perder a cabeça com pessoas que demonstram qualquer tipo de discriminação. Também pode ser super protetor com as crianças, na tentativa de evitar sofrimento.
Um dos personagens mais amáveis que já encontrei na literatura, da vontade de guardar em um potinho.
É oficial, esse livro tem um dos melhores romances que já tive a oportunidade de ler, e isso significa muito para mim, pois não costumo me importar com o romance.
Linnus e Arthur desenvolvem um relacionamento amoroso maduro, coerente e importante, onde esses dois homens se aproximam aos poucos, se conhecem aos poucos, passam a nutrir fortes sentimentos de admiração um pelo outro, e se ajudam a evoluir nos pontos mais necessários. É difícil não gostar desses personagens individualmente, e ainda mais difícil não gostar deles como um casal. É um relacionamento lindo, saudável e que não me pareceu forçado ou meloso. Simplesmente perfeito.
Um dos temas mais recorrentes e importantes, é o preconceito com o diferente, com o desconhecido. Esse tema é tratado de formas muito profundas e metafóricas, utilizando essas crianças com super poderes como base. Porém, não desenvolverá tal tema de formas básicas, clichês ou como uma cópia das discussões levantadas em "X-Men", pois o autor abordará isso de formas diferentes para cada criança, ainda que com grande destaque para Lucy, o "anticristo".
Gostei muito de cada uma das crianças, pois demonstram personalidades e peculiaridades muito mais profundas do que eu esperava. Todas tiveram pelo menos um momento para brilhar, nos permitindo explorar melhor seus sentimentos, sonhos e medos, cenas que ajudam ainda mais a construir os sentimentos paternais de Linnus e Arthur para com elas.
A história é simples, sem muitas reviravoltas ou acontecimentos impressionantes, pois é um livro muito focado no desenvolvimento de seus personagens. Senti diferentes atmosferas durante a leitura, indo dos sentimentos de tristeza e solidão ao alegre e esperançoso, mas sempre recheada de elementos estranhos, lúdicos e bizarramente divertidos, que dão um "sabor" diferente e único para a obra.
O final desse livro foi uma das coisas mais lindas que já li, sem nenhum tipo de exagero. É simples, verdadeiro e belo, despertando em mim sentimentos de felicidade verdadeiros. Foi difícil fechar o livro após a última página, e impossível deixar esses personagens para trás.
----- As Crianças -----
Talia: Uma garota gnomo de jardim, de personalidade forte, irritada e as vezes macabra, por falar coisas absurdas e violentas com naturalidade, mas isso é tratado como um alívio cômico. Tenta se passar por uma pessoa apenas engraçada e sem muitos sentimentos, mas desenvolve um forte amor por essa família.
Theodore: Um Wyvern / Dragão, que por não conseguir falar, muitos pensaram se tratar de uma criatura pouco inteligente, mas na verdade é tão inteligente quanto qualquer criança, ainda que seja necessário uma dedicação extra para aprender sua forma peculiar de comunicação. Se mostra uma criança cheia de pensamentos e sentimentos mais complexos do que todos esperavam.
Sal: Um garoto que pode se transformar em cachorro, e pode transmitir essa habilidade pela mordida. É um menino assustado e medroso, que já sofreu muito na vida e fez coisas ruins, mesmo que sem intenção. É apaixonado por livros e gosta de escrever.
Chauncey: Ninguém sabe ao certo o que ele é, mas tem a aparência de uma criatura circular, verde, translúcida e com tentáculos. Apesar da aparência repulsiva para muitos, é uma das crianças mais amáveis que Linnus já conheceu, que gosta de fazer amigos, ajudar e se sentir útil na vida das pessoas.
Phee: Uma Sprite / Fada, muito ligada a natureza, que prefere a companhia das plantas do que a dos humanos. É uma garota bondosa e fofa, que demonstra carinho e admiração quando alguém tenta se aproximar dela.
Lucy: um garotinho de 6 anos que é o próprio anticristo. Ele gosta de se mostrar assustador e fazer coisas macabras, mas muitas vezes isso pende mais para o alívio cômico, principalmente por ser constantemente repreendido por Arthur, que sempre tenta guia-lo no melhor caminho. Tem constantes pesadelos horríveis, referente a seu papel como anticristo, pesadelos que o fazem sofrer muito. Por conta disso, é muito apegado a Arthur, e posteriormente a Linnus, pois vê neles um porto seguro ou figuras paternas protetoras. Ainda que seja filho "biológico" do demônio, considera Linnus como seu verdadeiro pai e se inspira nele. Muitos o vêem apenas como o filho do demônio, ignorando ou nem mesmo se permitindo conhecer o garotinho adorável que é de fato. É uma criança que consegue ser extremamente fofa, com fortes características de liderança, que gosta de aventuras e de ser o centro das atenções.