Vanessa1409 28/10/2023
Tolhido... na medida certa!
Fugindo dos padrões, esse volume se inicia com uma espécie de prólogo. A autora nos conduz ao pesadelo de Suze, ao terror que ela vivenciou na Terra das Sombras, quando Paul a prendeu lá junto com Jesse. E esse prólogo justifica o pânico da, então, destemida mediadora ao se deparar com Paul Slater como novo aluno. Um tiro certeiro, pois não mexeu com a personalidade da protagonista, apenas a tornou mais verossímil.
Um convidado especial surge no elenco: Neil Jankow, amigo de Jake ? Soneca ? que vai jantar na casa dos Ackermans, e Suze percebe que o rapaz tem um acompanhante sobrenatural, um espírito bonitão: Craig. Ao contrário dos desencarnados que atravessam o caminho de Suze, Craig não é um espírito exatamente revoltado. Ele está confuso, frustrado. Por um momento, quando começa a entender o que sua alma pode fazer, Craig se torna uma leve ameaça. Fora isso, é um rapaz simpático, com tiradas irônicas, divertindo as cenas onde aparece.
Voltando ao X da questão, Paul mostra a Suze uma reportagem de 18 de Junho de 1952, sobre o Dr. Oliver Slaski e sua conclusão de que no Egito Antigo havia um pequeno grupo de xamãs que se deslocavam, viajando pelo mundo dos mortos. Deslocadores. Então, Suze cita novamente o Arcano Nove, O Eremita, comparando-o com um deslocador. Levando em conta que o Tarot é uma criação egípcia, faz total sentido. Ou seja, é nítido que a autora sabia o que estava fazendo. Ainda que não tenha aprofundado o assunto no enredo, afinal, trata-se de uma série adolescente, divertida, leve... toda a trama ficou bem encaixada. Cabot fez sua lição de casa, pesquisou, inteirou-se do assunto e, então, com a suavidade que o gênero pede, jogou as informações necessárias para ligar as pontas e não deixar nada solto. E isso, obviamente, a sufragou como escritora digna de aplausos ? porque, convenhamos, é muito difícil encontrar autores tolhidos na medida certa. Ou são prolixos demais (como eu) ou apenas pincelam o assunto, jogando-o na berlinda e deixando-o ali, ao léu, sem uma conexão sequer. Meg Cabot sempre sabe o que faz, e é isso que nos surpreende a cada nova aventura.
NOTA FINAL: Esqueçam a tradução mal feita e a revisão inexistente. Prendam-se no enredo, na divertidíssima trama criada por Meg Cabot, porque, afirmo com veemência: vale a pena. É uma leitura rápida, fluída, gostosa. Somos arrebatados ao enredo, conversamos com Suze, vivemos e sofremos com ela. Chegamos ao ponto de nos perguntarmos por que A Mediadora ainda não foi parar nas telas. Aplaudido. Altamente recomendado!