Isabel 28/03/2022
Ficção científica de primeira
Muitas pessoas possuem o receio de ler ficção científica em decorrência da linguagem que, em muitos casos, pode acabar se aprofundando demais em conceitos físicos que não se adaptam ao leitor leigo no assunto (categoria em que eu me encaixo). Porém, esse não é o caso de "Encontro com Rama", ou seja, mesmo que o livro busque explicar algumas das situações retratadas, o leitor não encontra nenhuma dificuldade em entender o que está sendo dito.
Esclarecendo esse medo relacionado ao gênero, posso dizer que a obra me agradou de um jeito surpreendente. Como os capítulos são curtos, é possível avançar rapidamente na leitura. Além disso, Rama, um ambiente desconhecido ao ser humano, torna-se um palco propício para situações de perigo e mistério para as personagens, deixando uma expectativa de "o que vai acontecer" ao decorrer das páginas.
Outro aspecto interessante é o exercício da imaginação do que seria a humanidade em um futuro relativamente distante. Clarke explora, ainda que superficialmente, traços sociais que destoam da realidade atual. Eu destacaria religiões que passam a ser focadas no espaço, a ausência quase total de monogamia, e a existência de organizações que antes se aplicavam aos países e que agora atuam em escala planetária (incluindo lugares quase inabitáveis como Mercúrio).
Em relação aos pontos negativos, dois se destacam: a construção das personagens e o final do livro. Acerca do primeiro, o lado humano praticamente não aparece na história, que prioriza muito mais a exploração e a abordagem política centrada em Rama. Reconheço que pode ser um ponto muito importante para alguns leitores, mas é um fato que não prejudicou tanto a minha leitura. O segundo, porém, é bem mais incomodo: o final é completamente aberto, sem apresentar praticamente nenhuma conclusão significativa em relação as principais perguntas que o leitor apresenta ao longo da narrativa.