Coruja 14/05/2018Chegamos à segunda crônica da lista, "O Cavalo e seu Menino", cujos acontecimentos ocorrem nos anos de ouro do reinado de Pedro, o Magnífico, antes, portanto, do final de "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa".
Publicado em 1954, ele foi o quinto livro da série a ser lançado, sendo o único a trazer como protagonista alguém originário do mundo em que se localiza Nárnia, e não carregado da nossa realidade. Shasta é um garoto adotado por um pescador calormano - reino vizinho a Nárnia -, que decide fugir quando presencia o pai negociá-lo como escravo com um figurão do reino. Nessa decisão é auxiliado por Bree, o cavalo do nobre, que é, na verdade, um dos cavalos falantes de Nárnia, capturado quando jovem na fronteira entre os dois países.
Bree é falastrão e cheio de si, repleto de lorotas sobre as batalhas das quais participou, de sua importância como um ‘cavalo livre de Nárnia’, ao passo que Shasta, acostumado a uma vida de muito trabalho e pouca afeição, é humilde, mas nem por isso menos inteligente ou capaz.
No caminho de sua fuga, encontram outro inesperado par que também foge para as terras livres do outro lado da fronteira: Aravis, uma jovem nobre calormana e sua égua falante Hwin, capturada da mesma forma que Bree. Aravis, acostumada a ter todas as vontades atendidas, tenta evitar um casamento arranjado pela madrasta. Ela é inteligente, mas arrogante, em contraste com a brandura despretensiosa de Hwin.
Bem se vê que são dois pares bem equilibrados, não? Bree muito fala, Aravis muito manda, e Shasta e Hwin têm de mais de uma vez chamá-los ao bom senso.
Pessoalmente, "O Cavalo e seu Menino" é minha crônica favorita. Lewis parecia estar menos preocupado com alusões e alegorias quando escreveu essa aventura, que tem um tom menos grandioso que o primeiro livro, mas muito de folhetinesco. Há casamentos arranjados, donzelas em fuga, príncipes perdidos, órfãos maltratados, uma miríade de provérbios na linguagem grandiloquente, moralizante - e ridícula de tão formal - dos calormanos.
Um dos grandes temas dessa história é a divina providência, evidenciada na figura de Aslam arranjando as coisas durante anos para o desfecho necessário. Diferente do primeiro livro, contudo, as questões religiosas não são tão evidentes e o grande mote de todo o enredo é a busca por liberdade. Os quatro fugitivos têm todos suas razões para querer deixar a Calormânia. Shasta, em especial, criado desde a mais tenra infância com mero interesse, praticamente como um escravo, mal compreende o que seja liberdade, mas a deseja profundamente.
“Para Nárnia! Para o Norte!”, é como um grito de guerra para eles, uma lembrança de que existe algo melhor pelo qual ansiar, e a esperança de encontrar um lugar em que possam se adaptar, um lugar que possam chamar de seu. Seja para os que mal se lembram de Nárnia, seja para os que nunca a conheceram, ela representa a possibilidade de um lar. Ao final, creio que seja isso que transforma a história de "O Cavalo e seu Menino" num conto tão cativante.
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