spoiler visualizarFeliky 27/10/2023
O tão falado livro!
É um livro que não é de autoajuda, mas parece. Ela cita outras fontes, mas a maioria são de outros livros de autoajuda que ela leu. Há menções a pesquisas, mas sempre coisas genéricas tipo "estudos apontam", sem nunca mencionar quais são esses estudos. É, de fato, mais a autora compartilhando sua percepção sobre o amor, algo que ela construiu ao longo dos anos, do que uma pesquisa sociocultural aprofundada com dados ou coisa assim. Isso não é um desmerecimento, apenas um aviso porque li certas resenhas de pessoas que ficaram decepcionadas ao se depararem com uma releitura semelhante a de um livro de autoajuda. Já estou avisando logo de início então!
Outro aspecto que vi sendo criticado é que o livro é principalmente heteronormativo, com as menções a relacionamentos homoafetivos sendo meio notas de rodapé apressadas. E sim, concordo, é mesmo! Mas, sinceramente, eu meio que já esperava por isso. Isso não é um estudo super completo, então não busca ser tão abrangente. A autora não é do meio, então ela se prontifica a abranger principalmente as experiências dela e, bem, as experiências dela não são homoafetivas. Talvez haja outros livros sobre o tema escritos por pessoas que são LGBT e que abordem da perspectiva homoafetiva ou talvez haja estudos mais aprofundados que busquem abranger os dados de maneira mais completa, mas "Tudo sobre o amor" não é nenhum desses casos. Portanto, também deixo avisado isso: é principalmente heteronormativo mesmo (algo que que já imaginava).
Como a autora analisa as coisas de uma ótica mais geral, há quem não vai se identificar (embora eu tenha visto mais gente se identificando do que não). Isso não quer dizer que Bell Hooks está errada em tudo o que disse, quer dizer apenas que ela buscou visualizar de uma visão mais generalista e você não se encaixou nela. Além disso, é mais focado no contexto da autora, que é uma mulher negra dos Estados Unidos. Isso também afeta, pois países diferentes têm aspectos culturais diferentes. Apesar de que muito do que ela diz a respeito dos EUA ainda dê para correlacionar com o Brasil, há, por exemplo, uma parte em que ela menciona sobre como as famílias são mais "nucleares" (o casal e os filhos) ao invés de "estendidas" (o núcleo + tios, primos, etc) que eu não acho que seja uma realidade TÃO brasileira. Isso é apenas um exemplo de como o contexto em que o livro se encontra, querendo ou não, afeta o conteúdo.
Há muitas coisas que eu concordei, que eu me vi pensando em situações reais. Há outras que não pude concordar. E, por mais que eu saiba que eu provavelmente estou sendo uma dessas pessoas céticas que Hooks destaca ao longo da leitura, também teve situações em que eu não pude deixar de ficar cética mesmo. Por exemplo, a questão de ser LGBT em uma família homofóbica e não se separar da família porque o amor é transformador. Ou algumas noções claramente cristãs em relação a ausência/afastamento da religião ser o motivo para o desamor (isso mais para os últimos capítulos). Aliás, a escrita em si é bastante afetada pela vivência cristã da autora, então se você não for cristão e não tiver interesse...às vezes não vai se encaixar contigo. Se você for cristão, então provavelmente te pegará mais. Eu sou agnóstica, então essas partes em que ela pegou pesado no espiritual realmente não foram para mim e renderam estrelas a menos. Mas vai ver isso renda estrelas a mais para outros.
No mais, às vezes a leitura é meio repetitiva. Certos tópicos não tinham necessidade de tanto martelamento, pois não eram tão complicados assim de entender para pedir essa repetição toda. Mas sim, ainda foi uma leitura interessante. Gostei de como ela destacou a importância das amizades, uma esfera de relacionamento estranhamente excluída quando o assunto é amor e afeto, sendo que é uma das mais fundamentais e presentes. Nem todo mundo encontrou seu amor romântico, nem todo mundo QUER um amor romântico, mas praticamente todo mundo já teve ou tem amigos.