Coisas de Mineira 08/04/2022
Império do Vampiro é o primeiro volume de uma nova série de fantasia dark do escritor best-seller do New York Times Jay Kristoff, autor da consagrada trilogia das Crônica da Quasinoite, que foi publicada aqui no Brasil pela Editora Plataforma 21.
Com uma narrativa em forma de entrevista…
O livro se divide em seis partes e traz uma trama não cronológica, onde Gabriel de Léon conta sua história.
Há 27 anos o sol não é uma estrela brilhante. Por conta das sombras, seres da noite podem vagar pelo mundo, subjugando os seres humanos. Os vários clãs de vampiros travaram uma guerra contra a humanidade, e agora o último herói, o último Santo de Prata, um membro de uma ordem de elite de guerreiros que juraram suas vidas à Igreja para defender o mundo da praga dos vampiros, foi aprisionado, e é forçado a contar sua própria história. Ele foi preso pelo assassinato do rei vampiro, e a nova governante quer conhecer sua história – bom, talvez ela queira mesmo é saber o que aconteceu com o Santo Graal.
Gabriel de León vai trazer duas narrativas: a primeira de sua juventude até ser arregimentando pela Igreja de San Michon e seu subsequente treinamento, mas também trata do momento posterior a queda dos Santos de Prata – e entre uma descrição e outra, voltamos para o calabouço em companhia de Gabe e seu confessor, o vampiro historiador Jean-François.
Uma criança bastada que não sabe que tem sangue vampírico
No início, Gabe é um menino nascido bastardo, sem conhecer sua herança como um vampiro mestiço. Por sua herança maldita, é enviado para a catedral de San Michon para treinar e lapidar suas habilidades.
E é lá que ele aprende mais sobre as linhagens vampíricas, das quais seus colegas descendem, herdando suas habilidades. Ele se torna parte da sagrada Ordem de Prata, composta por sacerdotes, Santos de Prata e as irmãs freiras que trazem o contraponto religioso para esse mundo na escuridão.
Império do Vampiro é uma reflexão sobre sua própria vida, contada a partir do que parece ser o fim dela, aprisionado pelas criaturas que jurou matar. E sua história reflete sua luta constante: enquanto jovem, um idealista; depois mais maduro, um tanto quanto descrente.
“Enquanto queimar, eu sou a chama. Enquanto sangrar, eu sou a espada. Enquanto pecar, eu sou o santo. E sou prata’.
histórias de vampiros sempre cativaram os seres humanos
Podendo ser rastreados em diversas partes do mundo ao longo do tempo – há, inclusive, relatos que datam da antiga Mesopotâmia. Mas nossa relação com esses seres mudou muito ao longo dos séculos. Talvez a obra que colocou definitivamente esse ser no nosso imaginário seja Drácula, de Bram Stoker, chegando à Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice – obra que Jay Kristoff disse ter influenciado em sua escrita.
Ainda que as obras mais recentes – de Diários de Vampiro, passando inevitavelmente por Crepúsculo, tenham retratado os vampiros como bad boys, Kristoff disse que queria trazer aquela descrição clássica, monstros cruéis que matam violenta e indiscriminadamente, e com poderes que dificultam e muito um embate com seres humanos normais. Não que ele se incomode com os bad boys – até se disse Team Delena (Uhu!), mas queria mesmo os monstrões.
Império do Vampiro traz a reflexão sobre o que a imortalidade pode representar, um afastamento tão grande da própria vida, finita, que pode levar a insanidade. Por isso, seus vampiros são mortais, sem nenhuma consciência nos atos mais sombrios. Mais importante, eles não se importam com a vida humana.
Em império de Vampiro o sol não brilha mais
E o mundo criado não é aterrorizante apenas pela presença de vários clãs de vampiros, pois, como se fosse pouco, o sol não brilha mais, e muitas outras coisas sombrias passaram a caminhar pela terra. É um mundo lúgubre e assustador.
Império de Vampiro é um calhamaço de quase mil páginas, repleto de escuridão, batalhas sangrentas com muitas mortes, mas traz seus momentos de leveza, uma história cheia de camadas e com questões complexas sobre fé, família, lealdade, fanatismo. E é tão fluido…
Perceber as mudanças em Gabe contam muito do livro também. Logo que entende que não é um ser humano normal, ele se sente culpado, sujo, e encontra redenção ao se ordenar na igreja. Ele quer se tornar uma lenda, acabando com os seres que tanto mal fizeram à sua família. E, para alcançar o status de herói, muitas vezes se lança intempestivamente em suas aventuras.
Ao avançar em suas memórias, percebemos que ele conquista aquele status de lenda, mas agora é um homem sofrido, descrente, um herói caído.
“Tolo é quem brinca junto do precipício. Mas só o príncipe dos tolos culpa outra pessoa quando cai.”
Os Personagem de Império do Vampiro são incríveis
É interessante ressaltar que Gabe narra duas linhas temporais ao mesmo tempo – o que pode parecer confuso, mas quando essas histórias confluem, faz todo o sentido a escolha do autor em contar a história assim. E foi doloroso e libertador!
A fé foi importante no início da jornada, mas ele viu e viveu tanta coisa, que não acredita mais. Tanto, que já não se ‘ilumina’ com a fé: os Santos de Prata recebem tatuagens com prata, que brilham intensamente quando eles estão em combate – fato que traz uma cena bem divertida, inclusive!
Mas, Gabe só precisava voltar a acreditar – é quando a busca do Graal cai em seu colo. Ele sabe que é só um objeto místico, que pode ser o responsável em trazer a luz do sol novamente para o mundo, acabando de vez com o reinado dos vampiros.
“E diante de Deus e seus Sete Mártires, eu aqui juro;
Que as sombras conheçam meu nome e desespero.
Enquanto queimar, eu sou a chama.
E Enquanto sangrar, eu sou a espada.
Enquanto pecar, eu sou o santo.
E eu sou prata.”
Uma trilogia com mais de 900 paginas só em seu primeiro livro
Um personagem que me encanta é a espada Bebedora de Cinzas, inconsciente e meio louca depois de quebrada – mais uma para o panteão de espadas, como a Stormbringer, de Elric de Melniboné. Outros personagens são importantes na trajetória do Santo de Prata, como seus irmãos de armas, uma noviça que desperta sentimentos proibidos, bem como seus companheiros de viagem durante seus dias mais velhos, grisalhos e cínicos.
E, para abrilhantar a obra, Império do Vampiro está repleta de ilustrações impressionantes do artista gráfico Monolime Art, ilustrações riquíssimas que me deixaram mais imersa no livro.
Em entrevista, Jay Kristoff disse que está escrevendo o segundo livro, que deve trazer um novo ponto de vista, podendo mudar nossa compreensão da história. É ou não é para deixar qualquer um ansioso?
Por: Maisa Carvalho
Site: www.coisasdemineira.com/2022/04/imperio-do-vampiro-jay-kristoff-resenha/