Thammy 27/01/2022
Arrastou meu coração...
Para um mar de lama de impunidade, de indignação, de dor, de dilema moral. Que livro duro, dolorido e, ao mesmo tempo, extremamente necessário.
Eu trabalhei em mineração e afirmo com todas as letras: essa não é uma área fácil de atuar. Não é papo furado e nem tentativa de justificar o injustificável: em empresas sérias, a segurança vem, sim, em primeiro lugar. Mas, ao mesmo tempo, decisões ruins são tomadas todos os dias nesse setor. Vivemos no capitalismo, não se esqueçam. Ele é quem dita as regras. Lamentavelmente, em certas situações, como essa, a segurança é negligenciada e a ganância fala mais alto. O valor de uma vida é quase nada perto das exportações bilionárias anuais.
Ler em detalhes a história da tragédia de Brumadinho, tão bem pesquisada e relatada por Daniela Arbex, me levou para lugares na mente e no coração que eu não esperava. Não estava preparada para o impacto avassalador dessa excelente apuração. Cada palavra nas mais de 300 páginas me fez sentir o peso da dor, a angústia da perda de tantas pessoas amadas. Gente que eu nunca conheci, mas que Daniela nos traz para perto, como se fossem parentes, colegas de trabalho, amigos queridos.
Jornalismo é isso. Serve para incomodar, tirar das sombras da impunidade, humanizar, mexer nas feridas incuráveis e profundas da sociedade. Jornalismo serve para relembrar e manter vivas as histórias de quem se foi sem ter chance de defesa. Daniela, com um trabalho jornalístico impecável, deu nome a quem a lama soterrou a identidade. Deu voz aos que, pela lama, foram silenciados.
Vocês precisam ler.