Jonathan 13/06/2023
Decepção
-TEM UM POUCO DE SPOILERS-
Eu adoro o primeiro livro apesar de o final dele ser bastante anticlímax e acelerado, esses defeitos não atrapalham a experiência do livro como um todo e ele continua sendo um bom livro, o mesmo não acontece em Esse é pra Casar. O livro tem um desenvolvimento muito bom, apesar do Luc e do Oliver terem personalidades de adolescentes, é possível captar a falta de experiência que ambos possuem em relacionamentos, você aprende com eles nesse processo, aprende que cada um tem seus gostos, suas preferências, aprende que um relacionamento é formado por duas pessoas diferentes e isso tá okay, Oliver deixa claro que é a personalidade caótica do Luc que faz ele amar ele e Luc deixa claro que é a personalidade serena do Oliver que faz ele amar ele, e é um relacionamento é assim mesmo. Mas todo esse desenvolvimento é jogado fora em um final bobo e infantil. Alexis Hall mostra a importância da terapia pra lidar com famílias narcisistas mas mantém o Oliver refém dos pais dele a todo momento, mesmo depois do acontecido ele mostra o Oliver lidando com o medo que tem da mãe em um sentido que beira o "eu mereço tudo isso" e é um absurdo. O livro A Luz que ele Emana mostra de uma maneira muito mais sensível como deve ser o tratamento a pais narcisistas e homofóbicos e lá são jovens adultos, aqui em Esse é pra Casar, o Oliver tem 30 anos, uma carreira sólida como advogado e financeiramente independente e ainda sim Alexis Hall retrata ele como um capacho das bobagens dos pais dele. A mesma coisa acontece com o Luc, é enjoativo a forma como ele sempre fala que o pai dela é um merda e mesmo assim ele sempre lembra e sempre demonstra guardar um rancor do pai, o trecho que ele liga pro pai pra pedir ajuda com a festa da Bridget fica desconexo, depois de tudo o que aconteceu no primeiro livro, O Luc, que é super inteligente a sua maneira achou mesmo que o pai dele poderia ajudar?
Agora tem a história do Oliver não se sentir parte da comunidade LGBT, isso é bem legal ser mostrado, pois acontece muito e nesse quesito não tem desenvolvimento nenhum vindo do Luc, ele não entende que não existe problema nisso, e essa insistência dele em achar que o Oliver vive em um círculo heteronormativo é por culpa da criação dele ou não é muito egoísmo e ignorância, o Oliver sempre muito conciso diz a todo momento que ele não participar ativamente da comunidade não faz dele um homofóbico em potencial, que é como o Alexis Hall dá a entender que o Luc pensa, acho que isso foi muito mau desenvolvido.
Chegando no final, que é a parte mais frustrante do livro, todo o desenvolvimento dos dois como casal gira em torno deles entenderem que são um casal, de maneira simplificada, um baladeiro e o outro caseiro, um caótico que não liga pra faxina e o outro pacífico que adora ter o dia de limpar a casa, o pedido do Luc é sim impulsivo, mas o Luc é impulsivo, o pedido foi do jeito dele e o Oliver aceitou, o desenvolvimento natural deles deveria ter sido eles entenderem como é a vida a dois e não achar que o casamento é um costume tradicional de uma sociedade conservadora, da mesma maneira que o Luc ensina pra mãe dele que o termo "bicha" foi ressignificado, o Alexis Hall deveria saber que o casamento também foi, se casar vai muito além de ser uma forma de protestar, o direito ao casamento civil a casais LGBTs garante os mesmos direitos que casais héteros, direito a herança, direito a pensão por doença ou morte, direito a adoção de crianças, direitos tributários, direito a convênio médico como dependente (no Brasil), "vamos fazer do nosso jeito" me soa raso e faz parecer que o Alexis Hall, ou não fez uma boa pesquisa pra entender o assunto, ou tinha um prazo apertado pra entregar o livro, Oliver e Luc tem 30 anos, não são adolescentes, mas esse final acabou deixando eles muito imaturos, um pouco ingênuos, e o Oliver é um advogado do tipo chato que a todo momento dá pitacos sobre leis kkkk.
O livro foi uma grande decepção, poderia ter sido mais profundo, mais apurado e sensível em alguns aspectos, no fim acabou sendo muito utópico, muito imaturo.