Pandora 02/03/2023Sem spoiler, mas tem trecho do livroVinte anos depois de seu pai ter sido preso, após confessar o assassinato de seis garotas, Chloe Davis é uma competente psicóloga, mas que carrega o trauma dos acontecimentos de infância. Quando outra menina desaparece, ela acredita que o pesadelo está recomeçando.
Então… não é bom e nem é ruim. Não dá pra escrever muita coisa sobre thriller sem dar spoiler, mas destaco duas questões interessantes: a narrativa sob o ponto de vista da filha de um assassino serial condenado, e que é uma pessoa com perturbações psicológicas resultantes do trauma e a tentativa da autora de caminhar seguindo a paranoia da personagem. Estes dois elementos, aliados à ideia do narrador em primeira pessoa não ser confiável, poderiam render um suspense psicológico de primeira. Mas não foi bem assim.
No início achei bem bacana acompanhar a Chloe por ela mesma, saber de seus medos, dos traumas, da dificuldade de levar uma vida normal pós-tragédia familiar, mas na metade do livro ela já está insuportável, paranoica e incoerente, mas não de uma forma interessante, que nos instiga a entrar na mente daquela personagem; ela vai ficando cada vez mais antipática, o que nos distancia dela. E quando nos distanciamos de uma personagem, não nos importamos mais tanto com ela. Chloe é uma profissional supostamente renomada, mas é uma terapeuta que não faz terapia! Ela afirma algo como “sei cuidar de mim mesma”.
Além disso, a culpa que ela sente pelos assassinatos tem um quê de egocentrismo. A melhor frase sobre isso vem do detetive Thomas: “Parece que é um padrão pra você, se envolver em conflitos que não lhe dizem respeito, tentar resolver o mistério e ser a heroína. Entendo por que você faz isso, você foi a heroína que colocou seu pai atrás das grades. Você sente que é seu dever. Mas estou aqui pra te dizer que isso precisa parar.” - págs. 255/256
Realmente, é um vira-página. Mas é uma narrativa com muita gordura, detalhes totalmente dispensáveis, personagens não muito cativantes e uns diálogos fracos, especialmente mais para o fim. Há alguns absurdos também, como a polícia não saber coisas que pela natureza do trabalho obviamente teria conhecimento. Mas acredito que a autora possa crescer em histórias futuras, ela tem uma certa originalidade que precisa ler lapidada. Sabe quando você não ama um livro, mas leria outro do mesmo autor? Acho que Stacy Willingham merece uma nova chance.