Paulo 22/10/2020
No ritmo de um artigo, Lilia Schwarcz analisa o impacto do covid-19 para o mundo e principalmente para o Brasil. Na visão dela, se a Revolução Russa foi usado por Eric Hobsbawn como elemento definidor para a virada de século, o covid-19 chegou como novo elemento de ruptura. Pensando em acontecimentos ao invés da simples virada temporal como o novo século. Esta é uma visão interessante e que sai em busca da mudança de pensamento ou de rupturas sociais. O longo século XX com suas dinâmicas agudas e alterações na forma de ver o mundo acabou porque uma pandemia vai abrigar em uma nova mudança de mentalidade. Aliado ao aquecimento global é uma consequência direta de uma forma de pensar que vê no desenvolvimento sustentável um passo necessário para o futuro.
No Brasil ainda estamos presos a uma mentalidade tacanha e conservadora, segundo a autora, no qual os negacionismos se tornam uma política de governo. Um dos argumentos da autora é que apesar dos diversos ganhos sociais conquistados ao longo de décadas de luta, a mulher ainda sofre intenso preconceito dentro da sociedade brasileira. Mais do que isso, mulheres negras são vítimas de uma duplo preconceito. Embora outros países defendem uma abertura maior através da representatividade, o Brasil engatinha nas políticas de igualdade social. Fruto de um patriarcalismo enraizado na mente da elite que se encerra em si mesma. A pandemia do covid-19 só ressaltou as diferenças sociais com poucos tendo acesso a um atendimento de qualidade. Enquanto ainda vivemos a expansão do vírus, a elite pensa em abertura não-sustentável. O governo não pensa no social, mas apenas no econômico. A autora traz dados referentes a essa linha de pensamento e expressa uma opinião bem fundamentada traçando comparativos com outras regiões onde a pandemia foi contida.
Dentro dessa política negacionista, a autora busca ressaltar a pressa em obter uma solução mágica para dirimir a pandemia, mesmo que utilizando um remédio cuja eficácia não é comprovada ou defendida por especialistas da área. Ou a busca obsessiva por uma vacina mesmo que tenha que pular etapas para fazê-la ser distribuída à população. Lilia traça um comparativo poderoso entre a campanha negacionista atual e a Revolta da Vacina ocorrida em 1904. A população se deixou levar por informações falsas que diziam que a vacina matava ao invés de curar. Algo semelhante acontece agora com grupos que negam a vacinação segundo falsos pressupostos.
Enfim, um ebook bastante interessante que coloca a questão do covid-19 em uma perspectiva histórico-social e onde a autora consegue fazer diversas críticas à forma como a pandemia vem sendo tratada em território nacional. A escrita da Lilia está muito solta e revela bastante sobre como ela enxerga a situação do país a partir de um viés da longa duração.
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