Andre Gama 29/11/2015A realidade é um soco no estômagoPoucas pessoas imaginam que um dos primeiros registros de literatura no mundo foi encontrado na Ásia. O poema de Gilgamesh, é considerado o texto mais antigo de que se tem notícia.
O continente Asiático tem uma população muito diferente em termos de comportamento, idioma, crença e religião. Talvez, por isso, vários livros tratando essa cultura tenham chamado tanto a atenção de leitores pelo mundo afora.
A escritora Thrity Umbigar nasceu na Índia e mudou-se para os Estados Unidos quando tinha 21 anos de idade. É jornalista e escreve livros cujas histórias se passam em seu país de origem. A Distância Entre Nós, lançado em 2006 pela Editora Nova Fronteira é um de seus Best Sellers.
Minha mãe ganhou esse livro em maio de 2007 e acabei herdando ele após o seu falecimento. Não sei porque fiquei com ele pois não gosto desse tipo de livro que expõe as mazelas do ser humano. Me sinto mau.
"Mas agora [...] adoro o som grave do violoncelo. De algum modo ele soa quase como a vida: triste, suave, perdida, solitária. Acho que, se o coração pudesse cantar, seria como um violoncelo."
Acho que não teria lido esse livro se não fosse pelo tema (Literatura Asiática) da reunião do Clube do Livro do Espírito Santo desse mês de Novembro/2015.
A história se passa em Bombaim, Índia, onde a diferença social é grande e a religião só vem agravar ainda mais o preconceito causado por essa diferença. Nesse cenário conhecemos Bhima, empregada doméstica, analfabeta, moradora da favela e abandonada pelo marido. Bhima trabalha na casa de Sera, viúva de boa situação financeira. Elas eram parecidas em muitos aspectos, apesar das diferentes trajetórias de vida.
Quando sua filha e genro morreram, Bhima teve que cuidar de sua neta, Maya. Ela faz faculdade com a ajuda financeira de Sera, mas fica grávida ainda solteira e o seu futuro se torna nebuloso. Dinaz, filha de Sera, possui um casamento feliz ao lado de Viraf e ambos esperam o herdeiro da família para a alegria de Sera. Mas nem tudo são flores. Sera traz consigo as marcas de um casamento infeliz ao lado de um marido violento que a espancava sem motivos. Mas, essas marcas são tão profundas que não melhoram com remédios e pomadas. Nem com o passar do tempo.
Umbigar consegue tratar de temas pesados de forma bem humana, mas a realidade é um soco no estômago tanto dos personagens quanto dos leitores.
Apesar da história se passar na Índia, ela se encaixaria perfeitamente na nossa sociedade. Quantas Bhimas, Seras e Mayas não existem por aqui. Apesar de tudo que as mulheres já conquistaram, muitas ainda sofrem violência de seus maridos; muitas ainda precisam se rebaixar para sobreviver; e muitas ainda são usadas sexualmente e, depois, descartadas. Ninguém pode ser considerado melhor ou pior pela sua cor de pele, sexo ou opção sexual. Somos todos seres humanos!
Depois desse livro preciso ler algo bem leve para tirar o gosto amargo da boca.