Vermelho Amargo

Vermelho Amargo Bartolomeu Campos de Queirós
Bartolomeu Campos de Queirós




Resenhas - Vermelho Amargo


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Paula 25/11/2013

Uma boniteza.
Poesia pura. Saí sublinhando o livro inteiro. Recomendo.

"Para alimentar a saudade do meu primeiro amor, comia retratos, rezava sem fé, mastigava hóstia, subtraía-me, entregava-me às amoras e seus aromas. Não havia mundo lá fora. Só amor, dentro e fora de mim. Virei dois, como a mulher de duas almas que visitava a minha rua. Faltavam-me rédeas para frear meu amor. Ele me roubava para o fundo do quintal, afogava-me nos rios, transportava-me para os pastos, subia-me nos galhos das árvores, mesmo sem fruto para colher. Eu amava, ou melhor, por inteiro, eu só era amor." [pág.22]


"Sempre suspeitei o nascer como entrar num trem andando. Só que, o mundo, eu não sabia de onde vinha nem para onde ia. E, no meu vagão, não escolhi os companheiros para a viagem. Eram todos estranhos, severos, amargos, impostos. Também entrei sem comprar o bilhete de viagem. Minha bagagem, pequena, cabia debaixo do banco - da segunda classe - sem incomodar. Contrabandeava poucos pertences : uma grande dor que doía o corpo inteiro e a vontade de encontrar um remédio capaz de remediar o incômodo. Até hoje o mundo ainda não atracou. Vou sem escolher o destino. O trem estancava na minha cidade, trocava de carga e reabastecia-se. O mundo só nos permite uma baldeação definitiva."
[pág. 38]
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Leonardo 03/03/2014

Poesia e simbolismo
Aproveitando o feriadão de carnaval, tentarei colocar em dia minhas resenhas aqui no blog. Este é o primeiro de cinco textos que programei para hoje. Li Vermelho Amargo no dia 22/12/2013, e fui deixando a resenha pra depois, pra depois, depois, e os livros foram se acumulando neste período.

Quando meu irmão comprou este livro da Cosac Naify (sim, entre nós três, a Cosac Naify é como se fosse uma grife. “Comprei um Cosac Naify hoje!” ou “Vou comprar esse livro, mesmo sem conhecer o autor, pois é um Cosac Naify” são frases comuns entre nós. Aliás – estendendo um pouco este parêntese – acredito que, em breve, se a Cosac Naify continuar a lançar promoções de 50%, nós três juntos teremos todo o catálogo de ficção da editora. O que não seria nada mau.), fiquei encantado, para variar, com o projeto gráfico do livro. Ele fez parte de uma experiência que fizemos de comprar livros diferentes do que andávamos lendo. Como este meu irmão praticamente só lê russos (e quase que exclusivamente Dostoievski e Tolstoi), achou por bem comprar este livro de um autor de nome sonoro e até então desconhecido.

Vermelho Amargo é um livro de cunho autobiográfico. Narra as difíceis memórias afetivas de um menino que tem que aprender a lidar com a sua madrasta enquanto ainda sofre com a morte da mãe.

Não há exatamente uma história, mas uma sucessão de lembranças, disparadas por alguns gatilhos, o mais comum deles o modo como a madrasta cortava cuidadosamente o tomate. Trata-se, portanto, de um livro bastante sensível, carregado de simbolismo.

O livro é repleto de aforismos e são muitas as frases que nos colocam para pensar:

“Exige-se longo tempo e paciência para enterrar uma ausência. Aquele que se foi ocupa todos os vazios. Como água, também a ausência não permite o vácuo. Ela se instala mesmo entre as pausas das palavras. Na morte, a ausência ganha mais presença. É substantivo e concreto tudo aquilo que permanece. Daí, os mortos passarem entre nós. Jamais imaginei seu espírito transfigurado em fruto.”

Além da melancolia própria das lembranças do menino, chamou a minha atenção as suas constantes referências aos livros:

“Mas uma coisa me vigiava: ler era o meu único sonho viável.”

Não foi um livro que me fisgou. Gosto de símbolos, mas gosto de histórias, e este livro é quase um poema. Uma obra ainda mais abstrata e simbólica que Lavoura Arcaica (resenhado aqui)e um pouco menos que Os Verbos Auxiliares do Coração, que espero resenhar ainda hoje.

“A vizinha, do lado direito da rua, sabia ler e escrever. Estudou em escola não reconhecida pelas abelhas. Autorizava-se a distribuir dissimuladas verdades para além das frestas das janelas. Não suportava uma contestação. Tudo lhe servia para o consumo externo. Citava normas, em língua afiada, zombando da razão dos outros. Percebia-se que suas palavras eram desencarnadas e não filtradas pelo consumo interno. Também, sem raízes, as palavras nasciam e morriam em sua boca. Minha mãe afirmava que muitos passam pela escola, mas a escola não passa por eles.”

Minha Avaliação:

3 estrelas em 5.

site: http://catalisecritica.wordpress.com
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Melissa Padilha 25/05/2014

Estava eu imersa em leituras densas e longas, muito longas ... fui eu procurar um livro curto que me interessasse que tivesse boas indicações, peguei Vermelho Amargo de Bartolomeu Campos de Queirós.

Apesar do livro ter menos de 100 páginas, a minha sensação foi que ele continha muitas informações em pouquíssimas linhas, com isso a entrega foi intensa, e o livro conseguiu me absorver como se contivesse 700 páginas.

Vermelho Amargo é um relato autobiográfico, no qual Bartolomeu divide lindamente conosco suas angústias e dores decorrentes da perda de sua mãe e da entrada na sua vida de uma madrasta que lhe foi uma marca, uma marca vermelha e amarga. Então é a história de um menino que tem que lidar com a perda muito rápida de uma mãe, a entrada em sua vida de uma madrasta que despreza a ele e seus irmãos, e de um pai cuja presença nos parece sempre muito ausente.

Divide conosco suas angústias pelo lento desmembramento familiar, cuja causa principal é obviamente a madrasta, além da falta imensa que a presença de sua mãe fazia em sua vida. O mais impressionante é a capacidade narrativa de Bartolomeu, em nos fazer mergulhar no mesmo sentimento que ele demonstra sentir.

A história é escrita toda em uma prosa poética imersa nas questões duras, de sofrimento intenso já descritos, mas tratados com uma leveza impressionante. O livro é recheado de metáforas, que expressam separações, agressões e palavras que permaneceram na memória de Bartolomeu. Apesar da leveza imposta pela escrita poética do autor, o livro não deixa de ser melancólico.

Esta pareceu-me mais do que uma história contada, uma poesia que narra a vida deste garoto. É um livro dos dissabores da vida, o quanto isso nos marca para sempre, principalmente quando ocorrem na infância.

É um livro que se compromete em transmitir de forma bela, as tragédias da vida cotidiana. Há quem ache, por sinal, que tragédias são as gregas, são as grandes guerras, ou as catástrofes mundiais, quanto mais eu leio, mais eu acho que as maiores tragédias são as não narradas, as do dia a dia, as quais a gente se acostuma, se acomoda, aprende (ou não) a conviver, são as compartilhadas na sala de terapia, na conversa com um amigo, são as nossas, pessoais, porque elas são próximas, reais e passam uma veracidade que chega a assustar. A tragédia é a vida real.

site: http://decoisasporai.blogspot.com.br/2014/04/vermelho-amargo-de-bartolomeu-campos-de.html
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Manuella_3 08/08/2016

“Toda saudade é a presença da ausência de alguém” (Gilberto Gil)
Último livro de Bartolomeu Campos de Queirós (1944-2012), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Melhor Livro do Ano de 2012, Vermelho Amargo (Cosac Naify, 75 páginas) é um relato autobiográfico, cujo narrador é um menino atormentado pela saudade. Nas palavras do autor: “Cada frase que eu escrevia estava passando um pouco a minha vida a limpo. É quase uma reflexão sobre o que está presente na minha memória ainda hoje e que eu não consegui esquecer.”

Ao lado dos irmãos e de um pai cada vez mais ausente, a chegada da madrasta: ‘O pai, que suportava o peso das caixas de manteiga, agora andava leve, manso, tropeçando em penumbras e suspiros. O amor encarnou em todo o seu destemido corpo e afrouxou até seus pesares. Amava em dobro: o amor que sobra aos viúvos e mais o amor reinventado, e capaz de camuflar o luto.’

Uma criança narrando suas memórias imprime sinceridade ao texto e mostra que as palavras são poucas para tamanho padecimento: ‘Eu possuía, oculto em mim, também o que eu não sabia dizer. (...) Cobiçava conhecer mais palavras para nomear o incômodo perpétuo instalado pela dor.’ É difícil assimilar a perda, o garoto não tem o amparo necessário para este momento decisivo. Precisa aprender a conviver com muitas lembranças e a imensa dor, que permaneceram tão vivas e latejantes por toda a vida do autor, como ele mesmo diz no vídeo (link no final da resenha).

O tomate é uma referência importante ao longo do livro. O menino observa o ritual da madrasta: um único tomate é fatiado para a família. Para que sirva a todos, as fatias são finas, impregnadas de raiva, ciúme e indiferença, que ela distribui para cada um junto com uma quota de dor. Uma dor viva em vermelho, bocado amargo experimentado todos os dias. Tão difícil engolir o tomate envenenado pelo ódio quanto digerir o imenso pesar da alma cravada de angústia.

Nenhum filho sobrevive ao luto sem sequelas: um irmão come vidro, a outra borda obsessivamente em pontos de cruz (metáfora da cruz que carrega), uma irmã menor passa a miar ao criar um gato mudo. Não há uma linha reta nesta narrativa de memórias, o referencial de tempo é dado pela partida dos irmãos, um a um. Cada parente a menos na mesa garante um pedaço mais grosso do fruto: ‘Cada despedida se anunciava dando mais sustância às fatias do tomate. O que antes era apenas transparência — hóstia maculada de ameaça — agora se fazia corpo e decretava abandono. As mãos matemáticas da mulher registravam com a faca e a força, e sobre a pele do tomate, suas premeditadas vitórias.’

(...)
Continue lendo no blog e deixe seu comentário: http://www.lerparadivertir.com/2015/02/vermelho-amargo-bartolomeu-campos-de.html
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Rúbia 19/12/2014

Prosa poética
Vermelho Amargo, do autor Bartolomeu Campos de Queirós, foi uma das minhas leituras de agosto (sim, muito atrasado!).
Essa é a última obra do autor (que é brasileiro) lançada em 2011 enquanto ele ainda era vivo. Eu já tinha ouvido falar muito bem desse livro e acabei comprando na promoção de aniversário da Cosac (porque ele não é dos mais baratos). A edição é maravilhosa, em capa dura, com as laterais vermelhas, num papel com aspecto reciclado e a cor da letra também é vermelha, um projeto gráfico lindo.
A história também é linda e, como possui poucas páginas é bem rápido de ler, eu li em poucas horas. Mas ao mesmo tempo em que é rápido, exige muita atenção pelo fato de esconder muitas metáforas.
É importante ressaltar que esse é um livro autobiográfico, ou seja, vai contar uma parte da história do autor, que é o narrador da história enquanto criança, um menino que perdeu a mãe e que hoje vive com o pai, a madrasta e mais cinco irmãos.
Como eu disse anteriormente, o livro é cheio de metáforas, por exemplo, eles eram oito pessoas na casa, a madrasta preparava tomate todos os dias e ele associava o legume a coisas muito ruins (por isso o nome vermelho amargo) e ela fatiava o tomate para os oito, em pequenas fatias finas. Conforme o livro vai avançando, a família vai se desfazendo e o tomate é dividido em pedaços maiores.
O uso das metáforas também acontece para falar sobre a personalidade dos irmãos, por exemplo, uma das irmãs vivia fazendo ponto cruz, até que um dia ela se casa e aí passa a carregar a sua cruz, com o casamento e pela solidão que ela passa a viver.
E assim tem histórias parecidas com os outros irmãos, como uma que assume a personalidade de um gato. A meu ver são as várias formas que a família assume para lidar com a dor da perda da mãe.
Não consigo falar mais sem dar spoilers, pois ele é um livro muito curto, mas indico fortemente a leitura, achei um livro lindo, uma leitura realmente impressionante, em uma prosa a linguagem dele é extremamente poética e com muitas frases reflexivas.


site: http://meumundodeleituras.blogspot.com.br/
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Marcio 01/01/2015

Ótimo livro. O autor faz uma prosa poética lindíssima! "Durante quatro estações, em todas as manhãs, o trem deslizava em frente de nossa casa. Nascia na cidade de um avô, que escrevia nas paredes, e morria na cidade de outro avô, com seu olho de vidro. Sempre suspeitei o nascer como entrar num trem andando. Só que,o mundo, eu não sabia de onde vinha nem para onde ia. E, no meu vagão, não escolhi os companheiros para a viagem. Eram todos estranhos, severos, amargos, impostos. Também entrei sem comprar o bilhete de viagem. Minha bagagem, pequena, cabia debaixo do banco -da segunda classe - sem incomodar. Contrabandeava poucos pertences: uma grande dor que doía o corpo inteiro e a vontade de encontrar um remédio capaz de remediar o incômodo. Até hoje o mundo ainda não atracou. Vou sem escolher o destino. O trem estancava na minha cidade, trocava de carga e reabastecia-se . O mundo só nos permite uma baldeação definitiva."
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Nanda 03/01/2015

Livro apesar de triste, bastante poético, não consegui largar até terminá-lo. Li em duas etapas. amei!!!
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Cássia Pires 19/02/2015

Um livro de imensa beleza
Escritores costumam enxergar além ao escrever seus livros, mas alguns têm um dom especial de transformar banalidades em literatura. Olhamos para um tomate e pensamos em uma salada, Bartolomeu Campos de Queirós olhou para um tomate e o transformou em "Vermelho amargo". Poucas páginas, conciso, há lacunas na história que serão preenchidas pela imaginação dos leitores, e isso em nada desabona o livro. "Vermelho amargo" é de uma beleza singular.
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Patricia Yumi 21/05/2015

Pura poesia!
Este livro é incrível e se tornou um dos meu favoritos da vida! Sei que muitas pessoas dizem que o livro não é tudo isso, mas este livro me conquistou, principalmente por causa da escrita poética do autor cheio de metáforas, e sério... da vontade de grifar o livro todo! Mesmo sendo um livro super triste e melancólico, que por sinal eu gosto muito, é um livro de uma beleza imensa.
Como o livro é curto, dá pra lê-lo em menos de um dia, eu por exemplo li em uma noite antes de dormir, pois não conseguia parar de ler. Enfim, vale muito a pena ler!

"Não se chora pelo amanhã. Só de salga carne morta." (pág.8)

" Aturdido por ter a alma como carga, e suportá-la para viver o eterno que existia depois de mim. Aturdido por ser mortal abrigando o imortal. Aturdido pelo receio de descumprir as promessas deixadas aos pés dos santos. Aturdido pela desconfiança de a vida ser uma definitiva mentira. Aturdido por vislumbrar o vago mundo como fantasia de Deus, em momento de ócio." (pág.14)

"Que a vida não tinha cura, o tempo me ensinou, [...] Nascer é abrir-se em feridas" (pág.18)

"[...] Em cada página virada ela se remoçava, afagada pelas viagens, amores, incômodos. O livro aberto era seu berço e seu barco, em suas páginas ela se transmutava.Eu suspeitava que o embaraço das letras amarrava segredos que só o coração decifra. Mas uma certeza me vigiava: ler era meu único sonho viável." (pág.19)
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Pris 03/08/2015

Catarse a cada vírgula
Poucos livros me provocaram tanta dor e angústia como Vermelho amargo, talvez seja esse a melhor representação de uma criança solitária, assustada... mas com uma sensibilidade que aflora a cada gesto dos que vivem ao seu redor.
Amei, infinitamente. Além de ser um texto curto, a linguagem é fluida e naturalmente simples.
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Kelly de Maria 17/11/2015

O amadurecimento do fruto
Livro escrito em lindíssima prosa poética, "Vermelho amargo" desce arranhando a minha garganta e sinto a dor em cada linha. Cada estrofe se lida separadamente, causaria a mesma reação da leitura completa da obra, pela profundidade de cada palavra. O conjunto de sentimentos e lembranças que ali saltam vivas aos nossos olhos deixa o leitor aturdido, palavra muitas vezes usada por Bartolomeu. Livro vivo, pulsante, um vermelho que arde e amarga. Um fruto que deve amadurecer antes do tempo, e como é doloroso esse processo. Com uma escrita rica em metáforas, sinestesias, antíteses etc, Bartolomeu nos leva com ele para um passado distante e vivo na sua memória. Indico mil vezes, experimentem o amargor e a doçura desse lindo livro.
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Paula 07/12/2015

Emoção angustiante!
Apesar do tomate e a faca não representarem costumeiramente uma obra poética como essa merece, quando penso nesse livro não existe outra imagem que traduza melhor esse maravilhoso, porém doloroso livro de inspiração autobiográfica. Como o próprio Bartolomeu coloca na epígrafe, foi preciso deitar o vermelho sobre papel branco para bem aliviar o seu amargor. Uma obra delicada como o fio da navalha e fácil de digerir como o próprio tomate!
Enfim, uma obra que trata sobre uma das piores perdas que o ser humano pode passar, mas dito tendo como ferramenta uma prosa poética que nos encanta ao mesmo tempo que nos causa asco!
Recomendadíssimo!
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Michelle Trevisani 09/03/2016

Lindas linhas

Vermelho Amargo é um livro recheado de lirismo, quase uma poesia em linhas retas, com metáforas e metalinguagens, um livro não de continuações, mas de reticencias. Traz este livro um relato da própria infância do autor, vivida de forma dolorosa pela perda prematura da mãe, pela falta de amor e carinho presente no lar depois disto, do surgimento de uma madrasta e de como cada irmão num total de cinco viveu seus sentimentos em decorrência desta fato que nenhuma criança merece ter como sina. Cada qual lida de uma forma com a perda, e aos olhos da criança "Bartolomeu" tudo era muito difícil de digerir. Por várias vezes surge no livro a questão do tomate: o autor brinca muito com essa palavra. O que é o tomate? É a forma de retratar que a madrasta tanto o fazia que só o que se pode enxergar é isto nela e mais nada, que nada além de tomate poderia se esperar da madrasta, nem um tipo de carinho, amor, cumplicidade. Se a ideia do pai era arranjar uma substituta para a mãe que se fora, ele o fizera muito mal, segundo as entrelinhas do autor. O tomate pode ser também o percalço pelo qual a família passa, o sofrimento sempre ali presente, vermelho e maduro, alimento cansado de se apresentar à mesa todo dia, causava repulsa.

Fora esta reflexão o livro traz sentenças lindas, poéticas, de uma beleza fora do comum, como estas:

"Inventei-me mais inverdades para vencer o dia amanhecendo sob névoa. Preencher um dia é demasiadamente penoso, se não me ocupo de mentiras." (p.7)

"Há que experimentar o prazer para, só depois, bem suportar a dor. Vim ao mundo molhado pelo desenlace. A dor do parto é também de quem nasce. Todo parto decreta um pesaroso abandono. Nascer é afastar-se - em lágrimas - do paraíso, é condenar-se à liberdade." (p. 8)

"Sempre suspeitei o nascer como entrar num trem andando. Só que, o mundo, eu não sabia de onde vinha nem para onde ia. E, no meu vagão, não escolhi os companheiros para a viagem. Eram todos estranhos, severos, amargos, impostos. Também entrei sem comprar o bilhete de viagem. Minha bagagem, pequena, cabia debaixo do banco - da segunda classe - sem incomodar. Contrabandeava poucos pertences: uma grande dor que doía o corpo inteiro e a vontade de encontrar um remédio capaz de remediar o incômodo. Até hoje o mundo ainda não atracou. Vou sem escolher o destino."

Ler Vermelho Amargo foi uma grata surpresa. Um livro curto carregado de sentimento. Carregado de lindas linhas, de poesia, de dor, uma dor sofrida, que de tão sofrida vira amor.
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