Vermelho Amargo

Vermelho Amargo Bartolomeu Campos de Queirós
Bartolomeu Campos de Queirós




Resenhas - Vermelho Amargo


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Jefferson Vianna 10/12/2018

Fatias finas de tomate e a saudade evaporando pelos olhos...
Poucos são os autores que conseguem poetizar a dor de forma tão brilhante. Além disso, poucos são os que conseguem descrever fatos tão intensos, como a morte, e expressar sentimentos tão vigorosos quanto à solidão. Em “Vermelho Amargo”, o autor, Bartolomeu Campos de Queirós narra a sua infância em poucas páginas e de forma detalhada. Trata-se de um relato autobiográfico, onde ele evidencia a perda da mãe e a chegada da madrasta, que leva à desconstrução do seu núcleo familiar... O tomate é elemento importante na narrativa, pois é através dele que o autor faz menção à falta de cuidado, de carinho, gentileza e amor por parte de sua madrasta, ao fatiar o fruto: “A madrasta retalhava um tomate em fatias, assim finas capaz de envenenar a todos. Era possível entrever o arroz branco do outro lado do tomate, tamanha a sua transparência. Com a saudade evaporando pelos olhos, eu insistia em justificar a economia que administrava seus gestos. Afiando a faca no cimento frio da pia, ela cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro como se degolasse um de nós.” – pg.09. Sem dúvidas é um livro magnífico, que deixa uma sensação amarga, um nó na garganta e faz do silêncio o nosso maior aliado... “Há dias em que o passado me acorda e não posso desvivê-lo. Esfrego os olhos buscando desanuviar a manhã que embaça o dia. Deixo a cama, carregado pelos fados de ontem.”- pg. 60. Um livro que transborda poesia e desperta uma infinidade de sentimentos... Leitura mais do que recomendada...
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Ingrid_mayara 22/01/2018

Poesia amarga
Nesse livro de cunho autobiográfico e sobretudo poético, o autor nos conta momentos vividos em sua infância, descreve as sensações, as cores, os cheiros da casa, as impressões que seu olhar sensível captou, relata também a dor sentida pelas perdas que causaram-lhe muito sofrimento. Ele nos convida a compreender em alguns momentos a questão da memória, como se suas lembranças não fossem necessariamente puras verdades, mas algo que sua mente se recorda a sua maneira, visto que ele se apresenta como o adulto escrevendo as sensações que tinha quando criança.

O narrador-personagem utiliza a palavra "tomate" tanto no sentido denotativo quanto no conotativo. O tomate era algo comum em suas refeições desde o tempo em que sua mãe ainda vivia, e essa foi a escolha para levar-nos a saber de suas amargas recordações.

Após enviuvar-se, o pai casa-se com outra mulher. A madrasta preparava as refeições como se estivesse em constante fúria, enquanto que a mãe, antes preparava tudo com muito carinho. A mãe é representada no livro como a protetora, bondosa, admirável. Já a madrasta é representada semelhante ao que vemos nos contos de fadas.

No livro, outros personagens também são mencionados e suas ações são contadas metaforicamente por meio das palavras "tomate" e "vermelho". O enredo é estruturado sem linearidade, então vamos aos poucos conhecendo os mais profundos sentimentos de acordo com o que o próprio menino-homem conta-nos em fragmentos. Esses fragmentos estão dispostos de maneira bastante racional, como se cada palavra fosse pensada e colocada justamente em seu devido lugar, concluindo-se numa novela (com relação ao tamanho) escrita em prosa poética.

A maneira de brincar com as palavras em "Vermelho Amargo" lembra um pouco o livro "Branca como o leite, vermelha como o sangue", do escritor italiano Allessandro D'Avenia. Nele, o narrador utiliza as cores para simbolizar seus pensamentos perante a vida e a morte. Recomendo ambas as obras.

site: Se quiser me seguir no instagram: @ingrid.allebrandt
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HeLe 17/12/2017

Não há memória pura
Vermelho Amargo apresenta um universo metafórico em forma de prosa poética. Um livro lindo, denso, triste e profundo.

Em uma entrevista, o escritor afirma que o livro é autobiográfico. O menino, a perda da mãe, a madrasta, os irmãos, o pai e o tomate existiram.

O narrador é um menino com seus 6 a 7 anos de idade. A história se inicia no mês de maio. Em seguida, temos a narração de um dos sentimentos mais lindos e dolorosos. O amor de um filho para com a mãe e a perda dessa figura.

A mãe, o alicerce da casa e do laço entre os filhos. "Se fora o lugar da mãe, hoje ventilava obstinado exílio."

Em forma de contagem, o narrador nos apresenta a história de cada ente da família. Oito pessoas.

A figura da madrasta cortando "o tomate vermelho, sanguíneo, maduro, como se degolasse cada um de nós." Cortado em "fatias delgadas escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos ao amor podem tragar.".

A representação do tomate na vida da criança. Outrora, um fruto admirado. A mãe cortava-o delicadamente em cruz, permitindo a transfiguração do fruto no imaginário do filho. Agora, desleixadamente, sem qualquer rito e amor, a madrasta via nos rostos das crianças, na casa, nos objetos o fantasma da mãe.

O ato de cortar amargamente o tomate era uma forma dela degolar as lembranças da mãe na casa.
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Em entrevista à "Imagem da Palavra" e ao "Heltongs1" (ver no YouTube), o autor afirma que "Escrevo para passar a limpo a memória./ A leitura é uma atividade política, pois ela é capaz de um refinamento, de um pensamento crítico e seletivo. Não quero pensar em uma literatura apenas para brilhantar a personalidade das pessoas, quero pensar que o texto literário é fundamental na vida de qualquer pessoa." / "A memória é patrimônio. Nela mora o vivido e o sonhado. Não há memória pura."
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Trecho do livro: .
"O amor da mãe que se fora transbordava, ou melhor, derramava da memória. Foi um amor imenso, sem escolha, autoritário. Meu coração escolheu sem me auscultar. E o amor instalou-se, repentino como o susto."

Um dos livros mais lindos que li neste ano. S2
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Bianca 08/05/2020

Profundo
A leitura pra mim foi densa e profunda. Ele trata a perdas de uma forma dolorosa, foi um livro que me trouxe reflexões e um pesar no coração
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Manuella_3 08/08/2016

“Toda saudade é a presença da ausência de alguém” (Gilberto Gil)
Último livro de Bartolomeu Campos de Queirós (1944-2012), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Melhor Livro do Ano de 2012, Vermelho Amargo (Cosac Naify, 75 páginas) é um relato autobiográfico, cujo narrador é um menino atormentado pela saudade. Nas palavras do autor: “Cada frase que eu escrevia estava passando um pouco a minha vida a limpo. É quase uma reflexão sobre o que está presente na minha memória ainda hoje e que eu não consegui esquecer.”

Ao lado dos irmãos e de um pai cada vez mais ausente, a chegada da madrasta: ‘O pai, que suportava o peso das caixas de manteiga, agora andava leve, manso, tropeçando em penumbras e suspiros. O amor encarnou em todo o seu destemido corpo e afrouxou até seus pesares. Amava em dobro: o amor que sobra aos viúvos e mais o amor reinventado, e capaz de camuflar o luto.’

Uma criança narrando suas memórias imprime sinceridade ao texto e mostra que as palavras são poucas para tamanho padecimento: ‘Eu possuía, oculto em mim, também o que eu não sabia dizer. (...) Cobiçava conhecer mais palavras para nomear o incômodo perpétuo instalado pela dor.’ É difícil assimilar a perda, o garoto não tem o amparo necessário para este momento decisivo. Precisa aprender a conviver com muitas lembranças e a imensa dor, que permaneceram tão vivas e latejantes por toda a vida do autor, como ele mesmo diz no vídeo (link no final da resenha).

O tomate é uma referência importante ao longo do livro. O menino observa o ritual da madrasta: um único tomate é fatiado para a família. Para que sirva a todos, as fatias são finas, impregnadas de raiva, ciúme e indiferença, que ela distribui para cada um junto com uma quota de dor. Uma dor viva em vermelho, bocado amargo experimentado todos os dias. Tão difícil engolir o tomate envenenado pelo ódio quanto digerir o imenso pesar da alma cravada de angústia.

Nenhum filho sobrevive ao luto sem sequelas: um irmão come vidro, a outra borda obsessivamente em pontos de cruz (metáfora da cruz que carrega), uma irmã menor passa a miar ao criar um gato mudo. Não há uma linha reta nesta narrativa de memórias, o referencial de tempo é dado pela partida dos irmãos, um a um. Cada parente a menos na mesa garante um pedaço mais grosso do fruto: ‘Cada despedida se anunciava dando mais sustância às fatias do tomate. O que antes era apenas transparência — hóstia maculada de ameaça — agora se fazia corpo e decretava abandono. As mãos matemáticas da mulher registravam com a faca e a força, e sobre a pele do tomate, suas premeditadas vitórias.’

(...)
Continue lendo no blog e deixe seu comentário: http://www.lerparadivertir.com/2015/02/vermelho-amargo-bartolomeu-campos-de.html
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Sabrina.Negreiros 28/04/2016

Nota 5
Confesso que fui surpreendida com essa leitura, fiquei fascinada pelo forma que o autor descreve sua infância dolorosa, o que chamou a atenção foi a narrativa é contexto, super recomendado ðð»
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Michelle Trevisani 09/03/2016

Lindas linhas

Vermelho Amargo é um livro recheado de lirismo, quase uma poesia em linhas retas, com metáforas e metalinguagens, um livro não de continuações, mas de reticencias. Traz este livro um relato da própria infância do autor, vivida de forma dolorosa pela perda prematura da mãe, pela falta de amor e carinho presente no lar depois disto, do surgimento de uma madrasta e de como cada irmão num total de cinco viveu seus sentimentos em decorrência desta fato que nenhuma criança merece ter como sina. Cada qual lida de uma forma com a perda, e aos olhos da criança "Bartolomeu" tudo era muito difícil de digerir. Por várias vezes surge no livro a questão do tomate: o autor brinca muito com essa palavra. O que é o tomate? É a forma de retratar que a madrasta tanto o fazia que só o que se pode enxergar é isto nela e mais nada, que nada além de tomate poderia se esperar da madrasta, nem um tipo de carinho, amor, cumplicidade. Se a ideia do pai era arranjar uma substituta para a mãe que se fora, ele o fizera muito mal, segundo as entrelinhas do autor. O tomate pode ser também o percalço pelo qual a família passa, o sofrimento sempre ali presente, vermelho e maduro, alimento cansado de se apresentar à mesa todo dia, causava repulsa.

Fora esta reflexão o livro traz sentenças lindas, poéticas, de uma beleza fora do comum, como estas:

"Inventei-me mais inverdades para vencer o dia amanhecendo sob névoa. Preencher um dia é demasiadamente penoso, se não me ocupo de mentiras." (p.7)

"Há que experimentar o prazer para, só depois, bem suportar a dor. Vim ao mundo molhado pelo desenlace. A dor do parto é também de quem nasce. Todo parto decreta um pesaroso abandono. Nascer é afastar-se - em lágrimas - do paraíso, é condenar-se à liberdade." (p. 8)

"Sempre suspeitei o nascer como entrar num trem andando. Só que, o mundo, eu não sabia de onde vinha nem para onde ia. E, no meu vagão, não escolhi os companheiros para a viagem. Eram todos estranhos, severos, amargos, impostos. Também entrei sem comprar o bilhete de viagem. Minha bagagem, pequena, cabia debaixo do banco - da segunda classe - sem incomodar. Contrabandeava poucos pertences: uma grande dor que doía o corpo inteiro e a vontade de encontrar um remédio capaz de remediar o incômodo. Até hoje o mundo ainda não atracou. Vou sem escolher o destino."

Ler Vermelho Amargo foi uma grata surpresa. Um livro curto carregado de sentimento. Carregado de lindas linhas, de poesia, de dor, uma dor sofrida, que de tão sofrida vira amor.
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Mayane25 29/12/2015

Poesia amarga
"Não se chora pelo amanhã, só se salga a carne morta."

Amor e dor. Dois sentimentos opostos, mas que nem sempre caminham separados. Não em "Vermelho Amargo", um relato da infância dolorosa vivida pelo próprio autor, Bartolomeu Campos de Queirós, contada de forma poética nesse livro.

Acredito que existe uma hora certa para que uma leitura possa, de certa forma, causar alguma reação - qualquer uma que seja - na vida de alguém. Depois de reler esse livro, tive essa confirmação. Já tinha tido contato com esses escritos há uns 2, 3 anos, depois de encontrá-los perdidos na estante da minha mãe. Li numa tarde qualquer, mas não lhe dei a devida atenção, não o absorvi da forma como deveria.

Nessa segunda leitura, consegui entender todo sofrimento que havia ali naquela história. A lembrança do afeto dado pela mãe morta, a indiferença da madrasta e as fatias cada vez mais finas dos tomates vermelhos. Amargos. Assim como a forma estranha que cada irmão tinha de lidar com essa realidade: um comia vidro, a outra se perdia nas linhas dos bordados.

O livro é curtinho e a leitura flui de maneira leve, mesmo que sofrida. A poesia do escritor nos envolve nas 75 páginas que substituiriam as 500 de qualquer outro livro. "Pra que rimar amor e dor?", pergunta Caetano. Bartolomeu nos devolve aqui um: por que não?


 
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Paula 07/12/2015

Emoção angustiante!
Apesar do tomate e a faca não representarem costumeiramente uma obra poética como essa merece, quando penso nesse livro não existe outra imagem que traduza melhor esse maravilhoso, porém doloroso livro de inspiração autobiográfica. Como o próprio Bartolomeu coloca na epígrafe, foi preciso deitar o vermelho sobre papel branco para bem aliviar o seu amargor. Uma obra delicada como o fio da navalha e fácil de digerir como o próprio tomate!
Enfim, uma obra que trata sobre uma das piores perdas que o ser humano pode passar, mas dito tendo como ferramenta uma prosa poética que nos encanta ao mesmo tempo que nos causa asco!
Recomendadíssimo!
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Kelly de Maria 17/11/2015

O amadurecimento do fruto
Livro escrito em lindíssima prosa poética, "Vermelho amargo" desce arranhando a minha garganta e sinto a dor em cada linha. Cada estrofe se lida separadamente, causaria a mesma reação da leitura completa da obra, pela profundidade de cada palavra. O conjunto de sentimentos e lembranças que ali saltam vivas aos nossos olhos deixa o leitor aturdido, palavra muitas vezes usada por Bartolomeu. Livro vivo, pulsante, um vermelho que arde e amarga. Um fruto que deve amadurecer antes do tempo, e como é doloroso esse processo. Com uma escrita rica em metáforas, sinestesias, antíteses etc, Bartolomeu nos leva com ele para um passado distante e vivo na sua memória. Indico mil vezes, experimentem o amargor e a doçura desse lindo livro.
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Pris 03/08/2015

Catarse a cada vírgula
Poucos livros me provocaram tanta dor e angústia como Vermelho amargo, talvez seja esse a melhor representação de uma criança solitária, assustada... mas com uma sensibilidade que aflora a cada gesto dos que vivem ao seu redor.
Amei, infinitamente. Além de ser um texto curto, a linguagem é fluida e naturalmente simples.
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