Eli 14/11/2011
Essa semana tem sido sinistra para mim: conteúdo para terminar, provas para fazer, livros para ler... Se meu dia tivesse 30 horas, ainda assim faltaria tempo. Se não bastasse isso, tenho tido sérios momentos de introspecção, que tem me levado a refletir sobre as escolhas que fiz que acabaram culminando onde estou hoje. Comecei a ler "A Jornada", livro da escritora Erin E. Moulton sem muita empolgação (eu confesso... apesar da capa e do trabalho gráfico primoroso, não consegui me encantar com a sinopse, o que para mim, é indispensável para começar uma leitura). Ainda bem que a sinopse nem sempre se mostra completamente esclarecedora. A estória tem como narradora Maple, uma menina de nove anos e meio, que tem uma irmã mais velha de onze anos e meio, Dawn, e uma irmãzinha mais nova que ainda é um bebê, Beetle. As três aguardam a chegada de mais um bebê na família, e compartilham uma existência idílica e calma, juntamente com seus pais, duas figuras extraordinárias, que dividem com as filhas o gosto pela literatura, pela imaginação e pela natureza. Por um infortúnio, a mãe das meninas acaba dando a luz antes da hora, o que leva a família a acreditar que a bebê - outra menina - não viverá por muito tempo. Para tentar salvar sua irmãzinha Lily, Maple resolve ir em busca da Mulher Sábia da Montanha, que segundo uma lenda contada de geração e geração, através da água que verte de uma fonte, pode proporcionar o poder da cura.
No 5° capítulo, fui obrigada a parar a leitura... Não sei porque, mas me lembrei da estória de uma menina que estudava na primeira escola onde trabalhei. Giovanna* estudou nessa escola até terminar o 9° ano, quando tinha treze anos. Estudou a vida inteira lá. A mãe morreu logo depois que ela nasceu, e o pai quando ela ainda estava no 3° ano, se não estou enganada. Com dez anos aproximadamente, Giovanna foi diagnosticada com Lúpus sistêmico, uma doença autoimune que ataca os órgãos e os sistemas, causando graves problemas nos rins, coração e pulmão. Tomando medicações fortíssimas, que as deixava groge, Giovanna pouco faltava a escola. E quando o fazia, sempre procurava recuperar o tempo perdido. Estudiosa, aplicada, inteligente, meiga... Giovanna era a aluna que todo o professor gostaria de ter. Participativa e responsável, nunca fez uso da sua condição para conseguir qualquer vantagem de quem quer que seja... Não aceitava trabalhos em lugar de provas! Queria a mesma cobrança que os outros alunos eram submetidos. Se perguntada como ela lidava com sua doença, ela respondia: "Não estou preocupada... Verdade... Eu sei que vão achar a cura... É só uma questão de tempo".
Giovanna morava com a irmã mais velha, que já era casada e tinha um filhinho... Tinha uma boa relação com o cunhado, a quem ela se referia como "pai". A irmã, que sempre a levava a escola, era conhecida por procurar formas alternativas para tratar a doença, sem jamais largar o tratamento convencional. Curandeiros, pais-de-santo, aculpultura, meditação, simpatia... Tudo que se pode imaginar foi procurado por essa irmã. A luta diária de Giovanna também era a dela. Impossível para mim não fazer a associação.
No livro, Dawn e Maple nos são apresentadas com personalidades bem diferentes, e que brigam por quase tudo, mas se unem para buscar um milagre para a irmãzinha, após ouvirem uma estória contada pela avó para Beetle. No início, sem ter o apoio de Dawn, Maple resolve sair em sua jornada sozinha, pois achava que levaria poucas horas para conseguir a água que lhes traria o milagre do qual elas tanto precisavam. Em meio a animais selvagens, ursos e caçadores, as irmãs Ritlle sofrem, choram, caem, mas também se reanimam, secam as lágrimas e se levantam, buscando forças no amor pela irmã que ainda não conhecem para buscar a tão sonhada ajuda...
A irmã de Giovanna tinha um pouco da Maple. Enquanto todos diziam que era bobagem, que o que ela fazia era uma perda de tempo, ela não se deixava abalar: fazia tudo que estava ao seu alcance para tentar salvar sua irmã. Simpatias, orações, meditação...
Todos nós deveríamos ser um pouco parecidas com Maple e a irmã de Giovanna: alguém que acredita num milagre, e corre atrás dele. Alguém que contra tudo e contra todos, acredita que algo pode ser feito, e que não é parada e se lamuriando que vamos conseguir que as coisas aconteçam.
Infelizmente, Giovanna não resistiu. Morreu numa sexta-feira ensolarada, com a irmã e o cunhado ao seu redor. Deixou um legado muito importante para alguém tão jovem: todos nós temos jornadas em nossos caminhos, mas nunca saberemos quando estamos percorrendo "A Jornada"! Aquela que será lembrada mesmo depois de termos ido embora daqui. Giovanna mostrou muita coragem para uma menina de 14 anos, idade que tinha quando morreu. Não mostrou medo nem raiva, e teve na irmã um amor tão grande que pôde ser sentido por todos que as acompanharam nessa JORNADA! Deixou como lembrança para aqueles que a conheceram que a doença pode ser algo inevitável, mas que o sofrimento é opcional.