Dada 29/02/2012A primeira dificuldade em ler um livro de Saramago é se abituar ao seu jeito diferente de escrever, principalmente porque foi o primeiro livro dele que eu li. Com um pouco de boa vontade em algumas páginas contornei a dificuldade inicial.
Geralmente quando gosto de algum livro, fico tão envolvida que não consigo parar de ler até saber o final, não foi o que aconteceu com esse. Primeiro eu já estava familiarizada com a maioria dos personagens, o que as vezes não fazia diferença nenhuma. Não vou falar que foi um livro que me despertou um interesse logo de cara, ele ficou bom mesmo quase que no final depois da conversa que Deus, o Diabo e Jesus tiveram. Não consigo explicar como isso acontece, mas esse foi um livro que eu não achei muito graça, mas ao mesmo tempo adorei. Acho que só Saramago mesmo para criar uma obra, que foi para mim tão antagônica.
No livro Jesus é atormentado por ter um fardo tão grande, ser o filho de Deus que tem o dever de propagar a sua palavra. E Deus nessa história não é nada bonzinho, é um "sujeito" mesquinho que quer os louros da vitória unicamente para si. Usa Jesus para ter mais poder sobre os fiéis e para provar que ele é o único deus, considerando que a narrativa se passa em uma época que os romanos acreditavam em vários deuses. Para atingir os seus objetivos ele afirma que muita gente deve e vai morrer, com o propósito de fazer as pessoas acreditarem mais nele. E o Diabo, é claro, que leva a fama. O Diabo é outro "sujeito" interessante. Ele não é a maldade, ele é apenas uma consequência da existência de Deus, tão egocêntrico, é como se um não existisse sem o outro. O sim e o não, o claro e o escuro, a noite e o dia. O bem e o mal.
O livro é um balde de água fria na cabeça de qualquer um que ache que vai ser contada um linda história sobre Jesus, principalmente para os muito religiosos. Para começar Deus não é bom, ele é tão vil como qualquer humano. Jesus faz de Maria Madalena sua mulher sem casamento, Maria concebeu Jesus da forma tradicional, ou seja, tendo relações sexuais com José. É uma crítica, eu diria com senso de humor.
Outra persongem que eu achei das mais importantes foi a Maria Madalena. Ela é uma mulher, que na época era a mesma coisa que quase nada, muito inteligente e era a pessoa para quem Jesus contava os mínimos detalhes de sua vida e consiguia ter uma compreensão clara das coisas que acontecia com Jesus.
A história teve dois pontos altos. O primeiro quando Jesus ia ressuscitar Lázaro Maria Madalena vira para ele e fala "Nenhum homem é tão pecador que mereça morrer duas vezes". Todo mundo vê o milagre de Jesus ressuscitando Lázaro como uma dádiva e Saramago interpreta como uma maldição.
O último ponto alto é quando Jesus está na cruz morrendo e diz "Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez". Ele fala para os homens perdoar os atos ruins de Deus.
Enfim, um livro intrigante, bem escrito(feito pelo Saramago só poderia ser) e forte. Forte porque derruba muitas teses que enfiam na cabeça de qualquer um desde crianças.
Não considero isso como uma resenha, porque o meu ponto de vista foi o que vigorou durante todo o texto.
Leiam, leiam, leiam e leiam mais uma vez. Vale muito a pena avisando que não é para qualquer um. Pessoas com a cabeça fechada para diferentes pontos de vista não vão gostar e vão achar um insulto ao cristianismo e principalmente à igreja católica.