Juliana.Giacobelli 06/11/2012Belo e Perturbador"Me ouça, Lanore, estou prestes a dar a você um presente raro. Você compreende? Se eu não intervir, você morrerá. Então, esta será nossa troca… Estou pronto para resgatá-la quando morrer e trazer sua alma volta para este mundo. Mas isso significa que você pertencerá inteiramente a mim, não apenas seu corpo. Ser dono do seu corpo é fácil, posso fazer isso agora mesmo. Quero mais de você; quero sua alma ardente. Você concorda com isso?"
No turno da noite de um hospital na cidade de St. Andrew, um médico é surpreendido com a chegada de uma garota, trazida pela polícia. Suas roupas estão cobertas de sangue e ela alega ter matado um homem. Porém, Lanny – a garota – implora ao médico para que a deixe escapar e, já envolvido por ela, Luke a ajuda a fugir.
É aí que Lanny começa sua narrativa, contando a Luke seus segredos de um passado sombrio: Desde criança, no século XIX, apaixonada por Jonathan, um garoto de beleza estonteante, Lanny nunca conseguiu a atenção que desejava. Expulsa da cidade por sua família, ainda muito jovem, ela é levada a Boston e resgatada por Adair, um homem misterioso e apaixonado pelos prazeres da carne, que mantém uma mansão repleta de pessoas prontas para suas orgias e um terrível segredo.
Mas, por mais envolvida que Lanny possa estar com Adair, é de Jonathan que ela sente falta, é Jonathan que ela ama. E quer tê-lo para sempre.
Até onde o amor é algo sublime e até onde pode se tornar uma obsessão capaz de destruir vidas pela eternidade?
Ladrão de Almas é um livro que, confesso, não estava muito no clima de ler quando chegou. Mas assim que as resenhas e reações começaram a sair, fui obrigada a conferir do que se tratava.
Misturando romance histórico com paranormal, Alma Katsu tem um jeito simplesmente maravilhoso de escrever. O livro é narrado de duas formas, em terceira pessoa no presente quando a narração se passa nos dias de hoje, e na primeira do passado quando mergulhamos nas lembranças de Lanny. E são nessas lembranças que a narração se tornou uma das coisas mais maravilhosas que já li em minha vida.
As cenas, a ambientação, os personagens, tudo é muito visual. É como se você estivesse vendo um filme passar em sua cabeça enquanto corre os olhos pelas linhas, de tantos detalhes que são passados – mas são detalhes que não deixam a leitura maçante. Fazia muito tempo que eu não lia um livro tão visual assim, e foi fantástico.
A temática em si também é muito interessante, mas um tanto perturbadora, e me lembrou muito Dorian Gray: Imortalidade, orgias, sexo consensual e não consensual, torturas. As cenas são realmente fortes e, se você é uma pessoa mais sensível, pode se incomodar com elas a ponto de te fazer largar o livro. Confesso que há cenas que muito provavelmente não sairão da minha cabeça por um bom tempo – e não por serem bonitas. E acho que esse é o motivo de muitas pessoas não estarem gostando tanto assim da obra.
Outra coisa que gostei – apesar de ter reclamado um pouquinho – é que existe até mesmo um flashback dentro de um flashback, onde conhecemos a história de Adair, que é fantástico – além de muito, muito perturbador. E, claro, o “plot twist” de Ladrão de Almas que foi muito bem pensado e me pegou de surpresa.
Lanny é uma personagem que, pelo menos para mim, não foi muito cativante. Apesar de a chamada do livro falar sobre “amor verdadeiro”, não consegui enxergar isso nela. Consegui sim, enxergar uma obsessão doentia por Jonathan, algo que eu acho muito diferente de amor verdadeiro.
Dos personagens masculinos, Adair é o grande destaque: Frio, manipulador e dominador, ele é o vilão de Ladrão de Almas e tem uma história muito, muito rica. Toda a ambientação que Alma criou para ele, as experiências perturbadoras, e seus métodos ortodoxos e dolorosos de obediência fazem dele o verdadeiro diabo na obra. Um daqueles vilões que você odeia e quer matar com as próprias mãos: o que só prova a capacidade inegável da autora de criar ótimos personagens.
O livro fecha muito bem, o que me deixou curiosa para saber o que acontecerá na continuação, já que não consigo nem imaginar o que pode ser.
Recomendo o livro para quem gosta de romances históricos e tem estômago forte: O Ladrão de Almas nos faz perguntar, de uma forma muitas vezes cruel e chocante, qual é a linha tênue que separa o amor da obsessão, a salvação da destruição, e até onde podemos ir quando confundimos uma coisa com a outra.
Link original: http://www.praticamenteinofensivo.com.br/resenha-ladrao-de-almas/