Vanessa1409 08/01/2024
Uma Releitura Decepcionante
Confesso que, quando li pela primeira, esse título me pareceu ótimo. Uma década depois, minha opinião mudou completamente. Foi uma releitura decepcionante!
O enredo nos prende a atenção. Apesar de ser mais uma série de vampiros adolescentes na escola, a premissa é diferente. O mundo é diferente, uma sociedade distópica que "aceita" os seres sobrenaturais em seu entorno, convivendo de forma mútua e supostamente pacífica.
Bem, essa suposta paz perde o sentido quando falamos de um grupo específico: os Veteranos Povo da Fé ? aquela turma de preconceituosos e falsos moralistas que criticam a tudo e a todos porque apenas eles são santos. Ou seja, nada de novo no reino da Dinamarca, pois é exatamente o que vivemos atualmente. ? Criticar os tão santos, maravilhosos e perfeitos "cristãos" (puro sarcasmo) foi a jogada ousada das autoras, o primeiro ponto que ganhou minha atenção.
Odeio enredos mimizentos e cheios de firulas, onde o "bem vence o mal, espanta o temporal" e blábláblá. Se falamos de vampiros, vamos falar direito, vamos ousar, chocar, fazer da série um marco contra essa patifaria preconceituosa da massa que se acha digna e santa ? A verdade é o total oposto disso. Eeita povinho maléfico esse bando de falsos cristãos...
A cultura Cherokee é explorada, mostrada ao leitor em doses homeopáticas, algo novo nesse tipo de enredo; e acabei descobrindo que uma das autoras realmente é uma mestiça com sangue Cherokee nas veias. Aliás, as autoras são mãe e filha. No caso, a filha, Kristin Cast, é a indígena em questão.
Vovó Redbird, ainda que em sua simplicidade indígena e completamente conectada à natureza e à magia, surge sempre como uma sábia anciã, assemelhando-se a uma divindade ancestral.
Neferet é uma personagem ímpar. Forte, imponente, respeitada. Enigmática, fato que a torna interessante.
Na Morada da Noite, o grupo de Zoey passou a impressão de que as autoras quiseram enfatizar o estereótipo dos "rejeitados", tendo: Damien, um gay; Erin, a loira metida; Shaunee, a negra; Stevie Rae, a caipira; e a própria Zoey, descendente indígena.
Em certa conversa, Stevie Rae fala sobre um garoto homofóbico, citando que ele havia mudado o nome para Thor quando chegou à Morada da Noite, e completando: "isso não diz tudo"? ? colocando todos os nórdicos como homofóbicos. Não, eles não são. A cultura escandinava, bem como seus achados arqueológicos, nos mostram ritos ao deus Freyr, onde relações sexuais homoafetivas eram normais. Mais pesquisas e menos estereótipos fariam bem para a construção de uma série desse porte.
O paganismo apresentado na Morada da Noite é baseado em cultura wicca, destacando-se nos cumprimentos típicos desse antigo ? e extinto ? Coven, como "abençoada seja" e "merry meet". O ritual ? Esbbath ? da Lua Cheia, apesar da deusa matrona ser do panteão grego ? Nyx ?, segue a tradição celta da religião druida. Ou seja, uma miscelânia digna de neo-wiccanos universalistas que não sabem mais o que fazem.
A protagonista é muito crítica em relação a tudo e a todos, chegando a criticar até um cabelo tingido, como se isso fosse um dos crimes mais hediondos do universo. Em um dos rituais das Filhas das Trevas ? grupo de Aphrodite ? é usado incenso de maconha ? erva típica desse tipo de celebração, principalmente para conduzir os participantes à viagem astral. ? Zoey volta a criticar mentalmente, zombando de tudo em sua narrativa. Tais críticas deixaram claro o preconceito das autoras com tudo, o que é uma pena, já que duas mitologias foram bem abordadas.
O primeiro Esbbath que Zoey participa é um ritual da Lua Cheia, em pleno outubro, e as autoras não citaram que essa seria uma Lua Rosa ? Lua Cheia que antecede um grande Sabbath; no caso, o Halloween; ou, para os pagãos druidas, o Samhain ?, provando que a pesquisa não foi feita. Elas poderiam ter explorado a situação, já que a Lua Rosa é considerada a Lua dos Desejos, sejam eles quais forem, bons ou ruins.
Vovó Redbird é humildemente mestra na magia, chegando a ensinar para Zoey sobre banho de purificação e como montar um bastão de defumação com sálvia e lavanda, ervas usadas justamente com esse propósito. Melhor personagem!
NOTA FINAL: As autoras deixaram a impressão de que, um belo dia, sentindo-se experts em mitologias grega e Cherokee, decidiram escrever sobre o assunto. Fizeram uma pesquisa bem básica sobre wicca e se deram diplomas de mestras no assunto. Envolveram um paganismo daqui e dali, encheram a protagonista do que estava em seus próprios corações ? ou seja, preconceito, racismo, machismo, inveja e mais um monte de ?faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço? ? e criaram a série. A premissa era boa, se as autoras não estragassem tudo com suas enxurradas preconceituosas. O problema é que... agora que comecei, lerei todos os volumes. Indico? Não. A protagonista é irritante, crítica demais e imensamente hipócrita. E não se trata de verossimilhança, pois nós sabemos que adolescentes se sentem os donos do mundo e da verdade absoluta. O problema é que os adolescentes desta década não aceitam mais isso, eles são mais inteligentes e desconstruídos que nós, e a série cairia por terra se fosse republicada atualmente. Então, não... não indico. A não ser que você queira passar raiva, aí é por sua conta e risco.