Fernanda631 05/07/2023
O Silêncio das Montanhas
O Silêncio das Montanhas foi escrito por Khaled Hosseini e publicado em 21 de maio de 2013.
Aqui Hosseini nos conta muitas histórias diferentes, mais uma vez ambientando a maioria delas em seu país, o Afeganistão, assim, a narrativa tem início com a fábula de um dev que raptava crianças e as levava embora em um saco. De certa forma, trata-se de uma metáfora do que em breve aconteceria aos protagonistas.
A narrativa tem início com um casal de irmãos – Pari e Abdullah – separados na infância. Esse é o ponto de partida para que o autor nos leve a uma viagem ao longo de várias gerações e por diferentes lugares, explorando a vida dos familiares, dos vizinhos e dos conhecidos dos dois irmãos. Os personagens sempre têm alguma relação entre si, mas possuem diferentes trajetórias de vida, cada uma contada com igual intensidade.
Tenho minhas histórias favoritas nesse livro, como a vida do casal que adotou Pari, contada pelo mordomo, que acompanha de perto os percalços enfrentados por eles e o desmembramento da família. Ou os conflitos morais de Idris, um afegão emigrado para os Estados Unidos que, ao voltar à sua terra, conhece uma criança com um passado triste e saúde muito debilitada que o coloca perante a difícil escolha entre ficar em sua zona de conforto ou ajudar o próximo. Mas todas as histórias que se entrelaçam em O silêncio das montanhas são emocionantes.
Na aldeia, o trabalho era escasso, logo Saboor vai para a capital trabalhar na casa dos patrões de tio Nabi, os Wahdati. Nila Wahdati e seu marido recebem Saboor e as crianças em sua casa. No entanto, algo naquela distinta mulher não agrada Abdullah. Posteriormente, ele descobre que Pari sua adorada irmã que ele cuidou desde o nascimento, fora vendida a esse casal.
Nesse meio tempo, vamos conhecer também a história de Parwana e sua irmã Masooma, e tantos outros personagens como Tio Nabi, Idris, Timur, Collette, Adel, Thalia, dentre outros que irão surgindo ao longo da narrativa.
A narrativa transcorre por acontecimentos históricos do Afeganistão, especialmente as guerras ocorridas naquele país. O silêncio das montanhas não é um livro de leitura fácil, os capítulos são alternados entre passado e presente, assim, o leitor necessita se esforçar para não se perder e compreender os acontecimentos.
É uma escrita diferente, a história é contada através de diversas formas: como uma carta, uma entrevista ou relatos de lembranças. A narração ora é em primeira pessoa, ora em terceira. O livro fala sobre a separação de pessoas que se amam, sobre a família, de como as escolhas que fazemos podem interferir no futuro de várias outras.
Ao longo de quase sessenta anos iremos acompanhar a trajetória de vida de Pari conhecer a família que ela constituiu, mas também conhecer o vazio que ela sentia sem compreender que o real motivo era distância do irmão Abdullah.
Será que algum dia ela conseguiu preencher esse vazio? Será que os dois irmãos conseguiram se reencontrar?
Hosseini tem talento para construir personagens que estão além dos nossos julgamentos morais. Todos eles têm em si uma indescritível complexidade que só pode ser construída por meio de uma narrativa muito bem estruturada e de uma prosa sensível. Algumas histórias são contadas em primeira, outras em terceira pessoa, e por vezes temos a visão de mais de um personagem sobre os mesmos fatos. Por exemplo, Nila Wahdati, mãe adotiva de Pari, é descrita em diferentes momentos da vida, ora pelo mordomo, ora pela filha, o que nos dá uma visão mais completa da personagem ─ e ainda assim mantém certo mistério a respeito de seus pensamentos e sentimentos. O autor não poupa recursos para nos aproximar dos personagens, de modo que cada história é igualmente envolvente. É uma obra com muitos clímaxs, para os quais fica difícil definir uma hierarquia.
Este livro não é uma leitura leve. Acidentes, doenças e violência, principalmente psicológica, estão presentes ao longo da obra. Pais abandonam filhos, irmãs ferem irmãs, famílias inteiras são injustamente desalojadas. E não adianta esperar por compensações mágicas da providência divina – como na realidade, nem todos os finais são felizes e, certamente, nenhuma vida é perfeita. No entanto, a prosa de Hosseini é tão bonita que atenua esses acontecimentos impactantes, o suficiente para prender o leitor e fazê-lo pensar: “Estou chocado, mas quero ouvir tudo que você tem a dizer”.
Alguns temas já trabalhados em obras anteriores – como as diferenças do Afeganistão antes e depois do talibã ou os conflitos de identidade de afegãos que emigram – são retomados aqui, mas sem a mesma profundidade e as explicações históricas para o leitor. Hosseini agora está mais concentrado em elaborar seus personagens do que em apresentar seu país para o mundo. Parte das histórias são ambientadas nos Estados Unidos, na França e na Grécia, embora esses cenários pareçam ser apenas coadjuvantes.