Fernanda631 05/07/2023
A Escolha dos Três (A Torre Negra #II)
A Escolha dos Três (A Torre Negra #II) foi escrito por Stephen King.
Em uma narrativa profundamente psicológica, King nos apresenta os outros membros do ka-tet de Roland. Precisando conhecer cada um deles, suas escolhas vão interferir no futuro da busca do protagonista pela famosa Torre Negra.
O segundo volume de A Torre Negra se inicia com o pistoleiro Roland de Gilead em busca de 3 seres que irão auxiliá-lo na busca pela Torre Negra. Segundo as cartas do homem de preto, em seu caminho ele encontrará o Prisioneiro, a Dama das Sombras e a Morte.
E a trama começa de uma forma brutal, pois Roland logo de cara enfrenta uma espécie de lagosta gigante que o deixa gravemente ferido. Em um momento mais à frente do embate, o pistoleiro encontra uma Porta que o trás ao nosso mundo, mais precisamente nos Estados Unidos, na década de 1980, onde ele vai encontrar o seu Prisioneiro, Eddie Dean.
Eddie Dean é um jovem a procura de seu irmão Henry, que assim como ele, sofre do mesmo problema, o vício em drogas pesadas. Com o tempo, e entre diálogos que o autor conduz de forma sensacional, acabamos percebendo, porque este jovem é um prisioneiro, pois a sua prisão é uma das piores possíveis, o vício em heroína.
Neste volume de A Torre Negra, Roland precisa entrar em três portas que o levarão ao encontro de três pessoas importantes para a sua jornada: O Prisioneiro, A Dama das Sombras e A Morte. O que muitos leitores reclamam é a falta de desenvolvimento da história ou a lentidão do enredo. Essa é a característica do autor: o andamento progressivo da história. Entendo que isso seja um defeito da parte do autor, mas é uma característica presente em quase todas as suas obras. Falar que um livro de King tem gordura demais é chover no molhado. A mim já não me incomoda tanto.
A dinâmica entre o grupo e Roland é muito explorada. Como estes indivíduos são retirados de seus lares e precisam lidar com uma nova realidade em um mundo que não é o seu. Todos os três personagens são seres desprezíveis ou falhos. King demonstra a sua habilidade em construir personagens detestáveis. Roland continua com a sua busca obsessiva pela Torre, mas o ferimento que ele sofre o obriga a ter que confiar em outras pessoas. A própria natureza da busca de Roland é posta em xeque. Eddie Dean é um viciado em heroína que age como transportador para um traficante chamado Balazar. Ao longo da história o caráter do personagem vai se transformando. Roland e Eddie acabam desenvolvendo um senso de irmandade. A Dama das Sombras é uma mulher que sofre de esquizofrenia levando a uma dupla personalidade. Não bastando isso Odetta foi empurrada para os trilhos do metrô enquanto esperava sua condução levando à perda de suas pernas. Detta Walker, a segunda personalidade de Odetta é uma mulher desprezível, cleptomaníaca e que gosta de matar homens brancos. Jack Mort é o empurrador, um empresário bem-sucedido que empurra pessoas e causa infortúnios apenas pelo prazer de fazê-lo.
Uma das questões trabalhadas nesse volume é o quanto o Pistoleiro sentiu a morte do jovem Jake. A partir da interação com Eddie e Detta, esse sentimento vai se solidificando em seu coração. Em vários momentos o personagem se questiona sobre qual é o propósito de perseguir a Torre Negra. Ele sabe que sua jornada é uma inevitabilidade, mas o quanto dela é sua escolha, e o quanto é uma obsessão. Talvez a conversa entre Roland e Eddie, quando eles chegam do outro lado seja uma das melhores para revelar o quanto o protagonista está perdido.
Por outro lado temos uma Detta Walker, que chama toda a atenção da trama para si. A sua dupla personalidade constrói momentos perturbadores. Roland sabe o que está acontecendo na mente da personagem, por conta de sua conexão com ela, mas o que fazer? E possivelmente o problema maior é o quanto da personalidade de Detta é de sua vontade primal de fazer aquilo que ela quer. Isso porque Odetta nada mais representa do que o elemento libertador para ela. É o que ela gostaria de fazer caso não precisasse usar uma máscara social para bem conviver entre outras pessoas. O lado Odetta é o nosso lado selvagem, desprovido de todas as amarras e prisões. Claro que nenhum de nós vai admitir isso porque fere o próprio princípio de convivência em grupo. O que acontece mais para o final com ela é algo natural, dado que apenas quando ela aceita quem é, é que ela pode seguir em frente.
Acho fascinante a forma como o Stephen King consegue trabalhar os seus personagens, no começo fazendo a gente pensar: “mas que personagem mais babaca”, e conforme a carruagem anda, transforma a nossa opinião e até nos faz compreender as razões deles possuirem esse ou aquele defeito. Ele faz isso tanto com o Eddie, como com a outra personagem que acredito que vai ser de extrema relevância nos próximos volumes da série, no caso, A Dama das Sombras.
Outro ponto forte é como o King consegue mesclar vários gêneros da literatura nessa saga. Afinal de contas, não é apenas uma série de fantasia, mas sim ficção cientifica (as viagens de um universo para outro), um pouco da especialidade do autor, o terror, e mesclando com o próprio Kingverso, ou seja, as referências as outras obras que ele escreveu antes de A Escolha dos Três.
A Escolha dos Três têm muito mais a cara do King, um prato cheio de ótimos personagens, vilões fáceis de odiar, muita ação com cenas de tiroteios espetaculares, e principalmente, mais perguntas de como o pistoleiro vai conseguir encontrar A Torre Negra.