Indrig 27/02/2024
Não temos tempo de temer a morte
Comecei a ler o livro por conta dos comentários do lançamento da série, confesso. Mas, sem dúvidas, foi a melhor escolha que fiz. Foi uma leitura muito proveitosa e que me deixou bastante reflexiva. Sempre que eu parava de ler, ficava lembrando dos personagens e pensando em quais decisões eles iriam tomar. Devido a minha própria ansiedade, tive a proeza de começar a ver a série junto com a leitura e obviamente tomei uma boa dose de spoilers, pois a série começa a contar a história do personagem que é narrado no último capítulo, o Ciro.
Entretanto, ter começado a série em sincronia com o livro me fez refletir sobre as diferentes possibilidades que essa história poderia ser contada e que talvez eu não seria tão impactada apenas pela série, diferentemente do que senti quando li e assisti.
Dito isso e partindo para o livro, gostaria de começar dizendo que a Fernanda tem uma escrita impecável, quase que machadiana no que se refere ao literário e parecida com a de Suassuna no que se refere ao teatro. Gostei de ver a presença da ironia, do sarcasmo, do sadismo em sua escrita, enquanto uma mulher escrevendo na voz de homens, 5 homens! Cada um com sua peculiaridade. Sílvio é um dos mais desprezíveis, mas ainda assim divertidíssimo! Álvaro talvez foi o que eu mais tive dificuldade de me conectar, por ser o primeiro e por utilizar uma linguagem bem formal, pra combinar com seu personagem "certinho" como em: "morte lenta ao luso infame que inventou a calçada portuguesa".
Acho interessante o fato dela narrar as personagens femininas em terceira pessoa ao contrário dos protagonistas homens em primeira pessoa, acho que diz muito sobre suas intenções enquanto escritora e no que ela gostaria de proporcionar ao leitor.
Gostei do final, foi um FIM redondinho e gosto da forma como ela escolheu falar da morte neste livro.
Uma menção honrosa à Gal Costa que está presente na série com a música Divino Maravilhoso:
"É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte"