matlima 22/04/2019
Serve como introdução...
Cuida-se um pequeno livro contendo basicamente 3 textos, que resumem os "Cadernos de Cultura Popular" usados pela equipe de Paulo Freire no bem sucedido projeto de alfabetização de adúltos em São Tomé e Príncipe. A linguagem é simples e remete ao oralismo, não aprofundando as ideiais e teses defendidas por Freire noutras obras.
O livro é um pouco enfadonho, pois repetitivo e marcado por dados de pouca relevância para quem não é educador. Ainda assim, vale a leitura como forma de introdução ao pensamento desse notável brasileiro.
Nos textos, Freire defende que a educação é um ato fundamentalmente político e que a leitura da palavra é precedida pela leitura de mundo. Defende, ainda, que o trabalho e a disciplina são fundamentais para a construção de uma nove sociedade, livre da exploração.
Ele sustenta a necessidade de que educadores e educandos se posicionem criticamente ao vivenciarem a educação, superando a suposta neutralidade da educação. Além disso, diz que o universo particular do educando (seu contexto e saberes) deve ser respeitado pelo educador, evitando que este imponha sua visão de mundo àquele. Por fim, aduz que a alfabetização não deve ser nem ingênua, nem astuta. Deve ser crítica, assim considerada a questionadora e reflexiva, que busca entender e ressignificar o mundo.
Toda a tese é nitidamente marcada por uma influência marxista. De um lado, busca-se quase que uma superação dos papéis de educador e educando, já que ambos interagem de modo dinâmico e dialético (o ato de ensinar é indissociável do aprender). Do outro, defende-se a educação como alavanca para as mudanças sociais.
Frases e ideias interessantes tiradas do livro:
“quem considera petulância da classe trabalhadora reivindicar seus direitos, quem pensa, por outro lado, que a classe trabalhadora é demasiado inculta e incapaz, necessitando, por isso, de ser libertada de cima para baixo, não tem realmente nada que ver com libertação nem democracia, Pelo contrário, quem assim atua e assim pensa, consciente ou inconscientemente, ajuda a preservação das estruturas autoritárias.”
“O trabalho que transforma nem sempre dignifica os homens e as mulheres. Só o trabalho livre nos dá valor”
“Todos os Povos têm cultura, porque trabalham, porque transformam e mundo e, ao transformá-lo, se transformam.”
“Uma educação pelo trabalho, que estimule a colaboração e não a competição. Uma educação que dê valor à ajuda mútua e não ao individualismo, que desenvolva o espírito crítico e a criatividade, e não a passividade.”
Estando num lado da rua, ninguém estará em seguida no outro, a não ser após atravessá-la. Assim também ocorre com a compreensão menos exata da realidade. Temos de respeitar os níveis de compreensão que as pessoas têm de sua própria realidade. Impor a nossa compreensão em nome de sua libertação é aceitar soluções autoritárias como caminhos de liberdade.
site: https://twitter.com/matlima