Toni 22/11/2022
Uma narrativa poderosa
A narrativa é uma ficção histórica construída ao longo de muitos anos de pesquisa, por isso muito dos horrores descritos no livro, deixam o leitor impactado com tamanha carga de realidade.
" olhei para o buraco escuro e liquefeito. E, de repente, a mão frenética de Ingrid ficou flácida. Os dedos amoleceram, curvaram-se aos poucos e desapareceram sob o gelo."
Também empresta uma dinâmica fluida à história ao optar por tecer toda a trama sob a perspectiva de mais quatro narradores, a saber Joana, Florian , Emília e Alfred, forasteiros de países diversos, os quais atribuem, cada um, a sua própria visão sobre as mesmas circunstâncias vivenciadas por eles. Essa forma com que a história é desenhada poderia tornar a narrativa lenta e, por isso, cansativa, porém, ao contrário, só a enriquece mais, na medida em que dá ao leitor a possibilidade de perceber melhor as nuances de cada uma dessas personagens.
O palco principal é o navio alemão Wilhelm Gustloff com sua capacidade máxima ultrapassada em 5 vezes, comportando mais de 10 mil pessoas que tentavam fugir da ocupação nazista, porém têm seus anseios frustrados e interrompidos pelo avanço do exército soviético e uma leva de torpedos, provocando a morte, possivelmente, lenta de mais de 9 mil refugiados, entre eles, segundo a autora, mais de 5 mil crianças, tornando-se assim o maior naufrágio marítimo da história da humanidade.
"O convés fortemente inclinado. Uma mulher jogando seu bebê para um marinheiro. Ele estendeu os braço. Não alcançou. A criança bateu bateu na balsa de metal e rolou para o mar. Milhares de pessoas desesperadas saltavam, batiam as pernas, engoliam água."
Para os que tinham sobrevivido, restavam ainda um dilema
" Como é que a pessoa se defende da prolongada e insuportável agonia de saber que se renderá ao mar?"
E para nós, leitores, uma constatação, há muito mais mistério entre o que a história nos conta e aquilo que de fato aconteceu do que nós, meros mortais, podemos conceber, plagiando o famoso escritor.