Itamara 23/12/2021King é sempre bom (até agora).Em ?A zona morta?, quinto livro publicado do autor, temos uma narrativa mais voltada para o sobrenatural do que propriamente o terror tão conhecido de King. Com o tema da paranormalidade sendo o centro da história, somos agraciados com um dos protagonistas mais cativantes que já li do mestre SK e que possui características que nos fazem torcer por ele do começo ao fim (e olha que ele sofre bastante por conta de sua condição ligada às premonições).
Ao longo da leitura, acompanhamos um desenrolar bem típico e já conhecido do escritor, que fazem os leitores amá-lo ou odiá-lo (eu me encaixo obviamente no primeiro grupo): descrições bastante longas ? por vezes cansativas, personagens bem construídos, enredo fechado e sem pontas: nada nunca é à toa, daí talvez a prolixidade inevitável muitas vezes. A história, ainda que fictícia, faz constantemente referência a fatos históricos e reais, como a guerra do Vietnã e eleições presidenciais dos EUA, servindo de gancho para que o autor possa trabalhar com temáticas recorrentes (mas inesgotáveis e criativas) presentes em suas principais obras. De um lado, o carismático John Smith; do outro, o político ambicioso e inescrupuloso Greg Stillson. A jornada de ambos é acompanhada de situações que são claramente ironizadas todo o tempo na obra: fanatismo religioso ao extremo, conservadorismo e ascensão de grupos radicais de direita, cargos políticos como meio de enriquecimento a qualquer custo. O antagonista é bizarro e, apesar de escrito nos anos 70, a construção do personagem parece antecipar figuras semelhantes que surgiriam no cenário da corrida presidencial americana alguns anos depois.
Um dos pontos que sempre gosto de exaltar nos livros de King e que aqui também se faz presente é o nível de pesquisa que ele utiliza para ser o mais real possível, desde assuntos ligados à ciência e medicina, ou até mesmo aspectos específicos da área policial e investigativa. O ponto negativo é o de sempre, apesar de ser mais comum nas obras mais antigas: pouca representação de personagens femininas. Quando estas aparecem, costumam ser estereotipadas ou apresentadas de forma rasa. Ainda que isso me incomode, ainda é um dos meus escritores favoritos e garantia certa de uma boa leitura.