Flávia Menezes 03/10/2021
O LIVRO QUE O KING ESCREVEU COM ?NOVEMBRO DE 63? NA CABEÇA!
?Zona Morta? foi o sétimo livro publicado de Stephen King em 1979, e é considerado seu primeiro romance, onde o autor nos apresenta uma grande trama principal, além de outras tramas secundárias, que ao longo da história vão se entrelaçando até seu grande final.
Como em toda boa história do King, o início do livro é simplesmente sedutor, e as cenas iniciais te pegam de tal forma, que você se envolve rapidamente e não consegue parar de ler. Porém, logo que a história sofre o primeiro revés, ocorre uma desaceleração no ritmo aventureiro e cheio de emoções do começo, e entra em uma nova etapa onde a maré é calma e o barquinho fica à deriva, aguardando por uma brisa para que ele possa se voltar a se mover.
Nesse momento, algumas histórias secundárias vão sendo apresentadas, trilhando seu caminho rumo ao protagonista, e alguns desses personagens, confesso que não me prenderam tanto assim, deixando a leitura um pouco cansativa.
Por volta da página 300, a história sofre um novo revés, e brilhantemente o King nos surpreende com algo que esperávamos que aconteceria apenas no final. Nesse momento, quando a história entra em sua segunda parte, eu acreditava que a narrativa começaria a ficar mais interessante, e o primeiro capítulo dessa nova etapa é parecido com o primeiro: extremamente interessante, e sedutor. Porém, novamente esse encantamento não dura muito tempo, e voltamos ao mesmo barquinho à deriva na maré calma.
A partir desse momento, a trama mais importante da história começa a ser moldada, ligando-se ao personagem principal, e sua grande missão. Só de dizer isso, imaginamos que a história começou a ficar bem interessante, mas confesso que esse foi o momento em que me desmotivei de vez, e eu vou lhe dizer por quê.
Em 1971, Stephen King começou a rascunhar um romance que foi engavetado, e só voltaria a ter a atenção do autor 40 anos mais tarde. Esse romance é ?Novembro de 63?, e estou trazendo esse assunto à tona, porque ?Zona Morta? tem seu conflito muito parecido com o que, anos depois, King desenvolveria em ?Novembro de 63?.
A história é a mesma: o personagem se envolve em uma grande missão que poderá salvar o mundo das garras de um homem que é capaz de cometer grandes atrocidades contra a humanodade, tendo como pano de fundo o cenário da política norte-americana.
Até mesmo os questionamentos passam a ser iguais aos que encontramos em ?Novembro de 63?, tais como, sobre voltas no tempo, e desafios ao leitor de que, se estivesse de frente com a possibilidade de eliminar homens barbáries como Hitler por exemplo, se teríamos essa coragem ou não.
De fato, ele até chega a citar na história o nome de Lee Harvey Oswald, o homem que assassinou o presidente John Fitzgerald Kennedy, e que é um dos importantes personagens de ?Novembro de 63?.
Ou seja, a sensação é de que a história de ?Novembro de 63? estava ali fazendo sombra, e se revelando como quem não quer permanecer esquecida em uma gaveta. E que bom que o King voltou a dar atenção a essa história, porque a maneira como ela foi desenvolvida é infinitamente melhor do que essa da qual escrevo essa resenha. Muito mais madura, e muito mais atraente também.
Referente a parte do apelo político, algo muito profundo nas obras de King (e que vive na cabeça de todo bom americano, diga-se de passagem), é uma parte muito significativa na narrativa, especialmente por abrir a discussão de políticos que escondem, por trás da máscara do carisma, verdadeiros lunáticos que parecem trazer uma visão de grande mudança e de justiça, porém que não passa de uma narrativa de um ego inflado de um verdadeiro manipulador.
Algo não muito longe de nosso cenário político brasileiro, onde temos verdadeiros lunáticos, que se escondem por traz de um discurso moralista, para tentar ocultar a face de verdadeiros narcisistas perversos que pouco se preocupam com o cidadão que os elegeu, e ainda assim, continuam a ser cultuados por eles como verdadeiros deuses. Mas... é melhor deixar esse assunto de lado, já que ele levanta muita polêmica.
Um outro ponto que até foi bem divertido na leitura, é um momento em que um personagem faz referência ao livro ?Carrie ? A Estranha?. Bem engraçadinho do King ficar citando seus próprios livros dentro de seus livros, não acha? Mas isso é o que eu mais gosto nele.
Para concluir, ?Zona Morta? é um livro que não me despertou muitas emoções, e ao chegar ao final, vou ousar dizer que eu só vi a sombra de uma grande obra-prima que seria publicada muitos anos depois, que é ?Novembro de 63?, onde tudo o que eu vi não dar muito certo nesse, acabou dando muito certo no futuro.
Para os fãs de King que assim como eu estão despertando para os livros do autor, e ainda não leram ?Zona Morta?, eu quero dizer que você não deve deixá-lo de lado. Primeiramente, porque essa é a minha experiência, e eu penso que é importante que você tenha a sua para vir aqui e nos contar como foi. Segundo, porque para aqueles que tem desejo de se tornar escritor, essa história tem muito a nos ensinar, já que foi uma primeira tentativa do King, que só o preparou para grandes coisas no futuro. Ou você acha que nosso grande Mestre da Escrita também não pode cometer suas falhas?
Então, não tenha medo de iniciar essa leitura, para ter você a sua própria impressão do que uma história como essa tem a lhe dizer. Afinal, um livro fala de diferentes formas para diferentes pessoas, não é mesmo? Então, com muita disposição abra o seu livro, e tenha uma boa leitura!