Ro 07/09/2020
Acho que estive segurando na bola de vidro rosa
Ler este livro não foi uma atividade fácil e os seis meses que demorei nessa empreitada estão de prova.
Li os três primeiros volumes na saga na expectativa de que as coisas fossem melhorar, que a história passaria a fazer sentido e que algumas falhas seriam consertadas (como a narrativa totalmente problemática de O pistoleiro). Gosto de pensar que não há livro ruim, mas sim o público correto para cada tipo de trabalho. Mas por ter tantos amigos que elogiaram essa obra, fiquei um pouco decepcionada com o que recebi.
Primeiro de tudo, é quase uma opinião unânime dos fãs de que Mago e vidro e um dos melhores, senão o melhor, livro da saga da torre negra. E se ele for de fato o suprassumo do King, tenho até medo do que vou encontrar pela frente.
Alguns pontos me incomodaram bastante não só nesse livro quanto nos outros três volumes anteriores. São eles: a linguagem, o uso desmedido de referências a outras obras e a construção das personagens femininas.
Acerca da linguagem, posso dizer que King usa de vocabulário chulo de forma desmedida. Havia capítulos em que eu ficava me perguntando "e quando vai acabar essa prosa ruim, mesmo?". Não que eu acredite que autores não possa utilizar desse recurso, ou que devem manter algum purismo na linguagem que utilizam, pelo contrário, acho que todo recurso é válido quando se tenta atingir o leitor. O meu incomodo nesse livro é justamente o excesso, o fazer parecer que as palavras estão ali somente para chocar, vazias de conteúdo.
O segundo ponto está relacionado com as referências apresentadas por King ao longo do texto. E, novamente, não me importo que autores referenciem outras obras, outros escritores, músicas etc., nos seus livros. Mas aqui há novamente o uso desmedido desse recurso. Há momentos em que você se perde e não sabe se está lendo A torre negra ou um resumo de O mágico de Oz, por exemplo.
E aqui vai outro incomodo: o fato de as personagens parecerem ser nada mais que releituras de personagens de outros livros. Parece um aglomerado de histórias que você já leu, falando de personagens que você já conhece, mas que, em algum momento, caíram em uma festa louca de ácido na cabeça do Roland.
E por último, e talvez o mais importante, King não sabe escrever personagens femininas. Gente do céu, que desespero ler o que ele faz com as mulheres das histórias dele. A primeira garota que eu conheci nos escritos do autor foi a Beverly, de It. Quem leu essa obra sabe o Stephen fez com a garota no final do livro. E se a pessoa tiver um pingo de senso crítico, também criticou a escolha do autor. Só que essa "estratégia narrativa" dele com as personagens femininas aparece repetida em outras obras, inclusive aqui nA torre negra. Não compro a narrativa de mulheres que só conseguem salvar o mundo transando. Não compro a ideia de que elas são as frágeis criaturas misteriosas que guardam segredos por amor. Também não desce para mim o autor criar mulheres fortes, mas enfraquecidas em narrativas pobres, para depois matá-las.
Enfim, fica aqui o meu desapontamento com uma fantasia que eu não entendo o propósito, mas que poderia ter sido mais bacana. Embora não tenha sido a melhor das minhas leituras, entendo o porquê de as pessoas elogiarem tanto Mago e vidro. É de fato cativante conhecer o passado de Roland e viajar com ele para a sua primeira aventura como pistoleiro. Foi a melhor leitura que fiz dentro dA torre negra até o momento. Se eu pudesse eleger um momento em que algo soou verdadeiro nesses livros, seria justamente essa passagem da história. De resto, tenho sentido que estou sendo jogada a uma pilha de palavras que nada significam e que só servem para ocupar o meu tempo diante da narrativa principal.