spoiler visualizarHugo.HortAncio 19/02/2024
Livro que cheira a clássico!
Ler este livro foi como assistir a um dos terrores de Ari Aster misturado com elementos estabelecidos por King nos tempos áureos presentes por toda a narrativa. Este clássico terror contemporâneo, lá em 2012, parece chegar dando o ABC de como escrever os roteiros que bombariam na década.
Aqui, Thomas tece uma história linear de causa-consequência perfeita, com acontecimentos importantes ao longo de todo o livro, com algumas infelizes barrigas pelo meio compensando com um clímax primoroso que finaliza o ciclo de um jeito de dar nó nas linhas que costuram os olhos de Katherine e Steve, surpreendendo o leitor mais inocente que acreditava que tudo permaneceria numa linha sóbria e realista - e muito criativa, também.
Há um acerto muito grande em contar a desgraça de Black Spring sob o ponto de vista de diversos personagens em núcleos diferentes, mas há a falha de não desenvolver todos eles satisfatoriamente. Muitas vezes eles parecem e soam iguais (menções honrosas a Katherine e Steve Grant que, na minha leitura, foram dois colossos). Na verdade, o autor desconstrói e destrói suas personas com muito gosto. O fundo do poço é o lugar onde eles vão parar.
A mensagem do livro acerta no nosso âmago social, na nossa doença crônica enquanto sociedade. Katherine Van Wyler é a bruxa-problema, mas será que é mesmo? Perto de quem usa a fé para cometer atos horríveis, ela é a mais honesta. A loucura das páginas finais dilacera essa questão até o osso. Para quem ama, gosta de amar e é capaz de tudo por amor, assim como nossos habitantes Springuianos, conseguiria continuar amando e tendo fé depois de vivenciar tudo o que é descrito? Talvez, costurar seus olhos e boca e a coragem de inflingir esta pena a si mesmo seja melhor do que encarar tamanha horribilidade, mesmo com a coisa que mais pedimos batendo em nossa porta.